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Livro Vs. Filme - 'Drive'

Por Vinícius Martins @cinemarcante


Existem adaptações boas, adaptações ruins, e adaptações que tentam a todo custo transformar uma montanha de estrume em obra de arte. Esse último exemplo é exatamente o caso de 'Drive', que é o escolhido de hoje para o retorno do hiato da nossa coluna.

Livro: Drive, escrito por James Sallis
Filme: Drive, dirigido por Nicolas Winding Refn



Pela introdução já deve ter dado para perceber que ‘Drive’ não foi um livro que me agradou muito. Apesar de não ser problemática, a história é bem simples: um dublê em hollywood, que trabalha também como piloto de fuga, se vê preso a um serviço que dá errado e acaba relacionado diretamente com uma situação que põe em risco sua vida pacata e fere sua política de não se envolver nem com os contratantes e nem com as suas respectivas cargas, alvos ou serviços.



Em 2011, após o lançamento do filme que trazia Ryan Gosling no papel principal, o livro ‘Drive’ logo se tornou um fenômeno superestimado. A ideia original é boa, e boa demais, na verdade: criar uma história contemporânea de gangues e facções nos arredores de Los Angeles como nos tempos da imigração, que teve sua “era de ouro” no começo da década de vinte do século passado, e expor os temores e honras que a máfia carrega em seus legados familiares e colocá-los em contraponto à figura de um homem sem nada a perder, cujo objetivo é simplesmente evitar que uma família seja vítima desse circo de horrores. Promissor, concorda? Apesar de ser atrativa, a história tem o crônico do seu problema na concepção de sua ideia, que é escrita em um festival de incoerências narrativas. A trama é contada de forma não linear (o que não costuma ser problema), mas nada faz sentido nas palavras que são, basicamente, vomitadas de forma aleatória no colo dos leitores. Honestamente, esse é um livro que não recomendo que seja lido.

No entanto, o filme consegue ter personalidade própria e conta a história de Sallis com o toque de sentido que lhe faltou nas palavras. Apesar de ser uma adaptação, o longa possui essa premissa de amor e crime já bastante gasta nos cinemas e que não é novidade para ninguém. Antes de ‘Drive’ teve ‘Carga Explosiva’ (2002) e depois dele teve ‘Em Ritmo de Fuga’ (2017), ambos abordando o mesmo dilema básico, só que de maneiras bem diferentes. Mesmo sendo basicamente uma releitura dos clássicos western de Clint Eastwood, tendo um homem sem nome envolto em um passado tão misterioso quanto a vida que leva, ‘Drive’, filme do dinamarquês Nicolas Winding Refn (que é daltônico e dislexo) consegue ser uma das melhores coisas do cinema dessa década. Uma coisa legal em ‘Drive’ é o fato de que o protagonista é conhecido por todos, incluindo pelos leitores/espectadores, simplesmente como “O Piloto”. A ideia de tornar o dublê um zé ninguém, que tem seu rosto encoberto pela máscara do anonimato, que prefere ficar atrás do volante enquanto os outros sujam as mãos, é um dos pontos altos e mais charmosos no filme. Quando tento descrever esse filme, costumo rotulá-lo como “o noir com pernas de blockbuster”. Agora, quando tento descrever o livro...



Às vezes me pergunto se não li o livro errado, ou se li o livro certo só que da maneira errada. Eu queria ter gostado, queria mesmo, mas cada nova página se tornava uma batalha colossal contra o tédio. O filme, que fiz questão de só assistir após ler o livro, se esforça para colocar sentido na bagunça narrada por James Sallis.

Finalizando, ficam as recomendações. Não leia o livro. Assista ao filme. Tente interpretar toda a simbologia enclausurada no uso excessivo da violência e entenda que uma adaptação pode ser sim muito melhor do que o seu material original.



               'Papo de Cinemateca - Muito Cinema pra Todo Mundo'

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