PiTacO do PapO - 'O Processo' | 2018
NOTA 9.0
Por Rogério Machado
Assim como a grande cerca que no gramado da Esplanada dos Ministérios separava o povo que era contra e a favor daquele impeachment, ficou também o Brasil: um paÃs divido em dois. Seja contra ou a favor ao ato ocorrido em 2016, vale dizer que o documentário da cineasta Maria Augusta Ramos (Morro dos Prazeres - 2013) é um material irretocável sobre todo imbróglio polÃtico-partidário que tomou conta do paÃs, dentro e fora do Palácio do Planalto. PremiadÃssimo no exterior, o longa foi destaque no Festival Visions du Réel na SuÃça e em Lisboa onde levou a melhor ficando em primeiro lugar nas respectivas categorias em que disputava, e terceiro lugar em Berlim com o prêmio do público.
O documentário acompanha a crise polÃtica que afeta o Brasil desde 2013 sem nenhum tipo de abordagem direta, como entrevistas ou intervenções nos acontecimentos. A diretora passou meses no Planalto e no Congresso Nacional captando imagens sobre votações e discussões que culminaram com a destituição da presidenta Dilma Rousseff do cargo. Tudo observado pelas cuidadosas lentes da diretora que se vale tanto de telefones sem importância, quanto de ângulos inéditos nas inúmeras reuniões e votações que antecederam e precederam o impeachment.
Não pretendo aqui militar por um lado, até porque não sou um grande entusiasta da polÃtica em geral. O que sei vem somente do pouco que vejo nos noticiários e por ideias formadas com tudo que leio. Contudo, mesmo me atendo aos detalhes que dizem respeito à obra em si, seria inevitável não notar que o documentário dê mais enfoque à defesa e o partido que estava (e ainda está) na berlinda: o PT. As reuniões de portas fechadas, as estratégias da defesa, os argumentos em 'off' ou durante os depoimentos, reafirmam a maneira errônea como a presidenta foi deposta e de como tudo realmente pareceu fazer parte de um grande plano, cujos principais objetivos e ambições eram puramente partidárias.
Apesar de parecer tendencioso, o filme deixa claro também as fragilidades de um partido que foi sendo aos poucos minado por alianças erradas , ações e aspirações que iam na contramão de sua filosofia. Isso é abertamente exposto numa das muitas reuniões da cúpula do partido após o impeachment, em que a câmera de Augusta absorve expressões e olhares dos mais diversos.
Mesmo sendo um documentário, o filme elege alguns personagens de destaque - como a senadora Gleisi Hoffmann, a autora da denúncia JanaÃna Paschoal e o advogado de defesa e ex ministro do governo Dilma, José Eduardo Cardozo: ambos filmados tanto em momentos cruciais durante o processo, como também em momentos de descontração. Este último, sobretudo, se revela leve e bem humorado, dono de um carisma Ãmpar mesmo diante de episódios de total consternação.
Fica implÃcito que o tÃtulo 'O Processo' tenha sido a escolha mais acertada, pois habita entre o 'golpe' (tão bradado pela esquerda) e 'impeachment' (vociferado aos quatro ventos por aqueles que demonizam o partido crucificado) - alternativa inteligente para não afastar de vez os eventuais curiosos e sem empatia com o governo do PT. No fim das contas, a diretora quer mesmo colocar o público pra pensar, ainda que seja contra ou à favor, com toda certeza você se pegará ponderando sobre tudo que foi exibido. Nos momentos derradeiros, já com Temer no poder e após a denúncia do então presidente por crime de corrupção passiva, novas manifestações tomam conta da Esplanada e uma fumaça negra provocada pelos manifestantes invadem a tela escondendo as fachadas do palácio - fumaça essa que ainda paira sobre a nação. Curioso notar que em momento algum o ex vice presidente é mostrado durante os 140 min. de documentário.
Super Vale Ver !
Por Rogério Machado
Assim como a grande cerca que no gramado da Esplanada dos Ministérios separava o povo que era contra e a favor daquele impeachment, ficou também o Brasil: um paÃs divido em dois. Seja contra ou a favor ao ato ocorrido em 2016, vale dizer que o documentário da cineasta Maria Augusta Ramos (Morro dos Prazeres - 2013) é um material irretocável sobre todo imbróglio polÃtico-partidário que tomou conta do paÃs, dentro e fora do Palácio do Planalto. PremiadÃssimo no exterior, o longa foi destaque no Festival Visions du Réel na SuÃça e em Lisboa onde levou a melhor ficando em primeiro lugar nas respectivas categorias em que disputava, e terceiro lugar em Berlim com o prêmio do público.
O documentário acompanha a crise polÃtica que afeta o Brasil desde 2013 sem nenhum tipo de abordagem direta, como entrevistas ou intervenções nos acontecimentos. A diretora passou meses no Planalto e no Congresso Nacional captando imagens sobre votações e discussões que culminaram com a destituição da presidenta Dilma Rousseff do cargo. Tudo observado pelas cuidadosas lentes da diretora que se vale tanto de telefones sem importância, quanto de ângulos inéditos nas inúmeras reuniões e votações que antecederam e precederam o impeachment.
Não pretendo aqui militar por um lado, até porque não sou um grande entusiasta da polÃtica em geral. O que sei vem somente do pouco que vejo nos noticiários e por ideias formadas com tudo que leio. Contudo, mesmo me atendo aos detalhes que dizem respeito à obra em si, seria inevitável não notar que o documentário dê mais enfoque à defesa e o partido que estava (e ainda está) na berlinda: o PT. As reuniões de portas fechadas, as estratégias da defesa, os argumentos em 'off' ou durante os depoimentos, reafirmam a maneira errônea como a presidenta foi deposta e de como tudo realmente pareceu fazer parte de um grande plano, cujos principais objetivos e ambições eram puramente partidárias.
Apesar de parecer tendencioso, o filme deixa claro também as fragilidades de um partido que foi sendo aos poucos minado por alianças erradas , ações e aspirações que iam na contramão de sua filosofia. Isso é abertamente exposto numa das muitas reuniões da cúpula do partido após o impeachment, em que a câmera de Augusta absorve expressões e olhares dos mais diversos.
Mesmo sendo um documentário, o filme elege alguns personagens de destaque - como a senadora Gleisi Hoffmann, a autora da denúncia JanaÃna Paschoal e o advogado de defesa e ex ministro do governo Dilma, José Eduardo Cardozo: ambos filmados tanto em momentos cruciais durante o processo, como também em momentos de descontração. Este último, sobretudo, se revela leve e bem humorado, dono de um carisma Ãmpar mesmo diante de episódios de total consternação.
Fica implÃcito que o tÃtulo 'O Processo' tenha sido a escolha mais acertada, pois habita entre o 'golpe' (tão bradado pela esquerda) e 'impeachment' (vociferado aos quatro ventos por aqueles que demonizam o partido crucificado) - alternativa inteligente para não afastar de vez os eventuais curiosos e sem empatia com o governo do PT. No fim das contas, a diretora quer mesmo colocar o público pra pensar, ainda que seja contra ou à favor, com toda certeza você se pegará ponderando sobre tudo que foi exibido. Nos momentos derradeiros, já com Temer no poder e após a denúncia do então presidente por crime de corrupção passiva, novas manifestações tomam conta da Esplanada e uma fumaça negra provocada pelos manifestantes invadem a tela escondendo as fachadas do palácio - fumaça essa que ainda paira sobre a nação. Curioso notar que em momento algum o ex vice presidente é mostrado durante os 140 min. de documentário.
Super Vale Ver !
DIREÇÃO
- Maria Augusta Ramos
EQUIPE TÉCNICA
Roteiro: Maria Augusta Ramos
Produção: Leonardo Mecchi
Fotografia: Alan Schvarsberg, David Alves Mattos
Trilha Sonora: Marta Lopes
Estúdio: Enquadramento Produções, Nofoco Filmes Produções Cinematográficas Ltda.
Montador: Karen Akerman
Distribuidora: Vitrine Filmes
ELENCO
Chico Buarque de Hollanda, Dilma Rousseff, Lula, JanaÃna Paschoal, Gleisi Hoffmann, José Eduardo Cardozo, Aécio Neves,
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