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PiTacO do PapO - 'Crown Heights' | 2017

NOTA 8.0

Por Rogério Machado


Quanto custa sua liberdade? Você abriria mão dela para admitir ser quem não é ou algo que não fez para tê-la de volta?  Me fiz essas perguntas ao fim da sessão de 'Crown Heights' , da Amazon Studios, que passou pelos festivais do Rio e Sundance em 2017. Baseado em eventos reais, o filme que tem a direção de Matt Ruskin, funciona também como uma espécie de apelo (e porque não denúncia?) para um fato triste na justiça americana: as milhares de pessoas que são condenadas injustamente. 

O ponto de partida da história se dá em 10 de abril de 1980, quando um tiro ecoou pelas ruas de Crown Heights, no Brooklyn, dando início a uma batalha por justiça que duraria duas décadas. No olho do furacão está Colin Warner (Lakeith Stanfield), que é preso por um crime que não cometeu, vítima de um sistema corrompido que se recusa a escutar a verdade. Em seu julgamento, a corte o condena às pressas. Mas quando Colin está prestes a perder as esperanças, seu melhor amigo, Carl King (Nnamdi Asomugha) , decide dedicar a vida a colocá-lo de volta em liberdade, dando início a uma investigação pessoal que duraria anos. 



Pela trajetória do protagonista, somos levados a crer que estamos diante de uma história de racismo, mas logo a seguir o tom de denúncia sobre prisões sem o mínimo de respaldo é que dá o tom do filme. Contudo, mesmo pleiteando a causa citada na introdução desse texto, não dá pra não pensar sobre as inúmeras mortes de afrodescendentes por policiais nos E.U.A , sobre como, em todo o mundo, quem carrega o fardo de uma culpa que não lhe pertencem são os negros. Não dá pra não pensar que se um negro está no lugar errado e na hora errada, será sempre ele a sofrer o ônus da acusação. 

O mais aterrador em 'Crown Heights' é como todo o caso desse assassinato foi claramente deturpado a fim de conseguir o rápido encarceramento do suposto culpado. Esse aspecto, claro, é possibilitado pelo foco do roteiro, que mostra tudo pelo ponto de vista tanto de Colin quanto de KC, de tal maneira que sabemos, sem a  menor sombra de dúvidas, que o protagonista é inocente. É interessante notar como o texto, do próprio Ruskin, não busca retratar seu personagem central de forma idealizada – ele não é uma pessoa violenta, mas está longe de ser perfeito, como é mostrado em uma das cenas iniciais, na qual ele rouba um carro, ou quando ele entra em uma briga na prisão.

O foco aqui não está na impunidade e sim nas falhas do sistema, que faz pessoas pagarem por crimes que jamais cometeram, enquanto outros, verdadeiros culpados, são deixados livres. Por vezes também enxergamos como de “correcional” essas instituições não tem nada, visto que a corrupção já se alastrara por elas completamente. Com elenco competente e bom ritmo, o filme é um dos bons exemplos no gênero. Fica um gosto ruim de impunidade e por não descobrimos realmente o que está por trás do assassinato em questão, mas talvez seja para fomentar o debate ou simplesmente é a resposta que ainda não temos, a resposta que a justiça ainda não nos deu.


Vale Ver! 

DIREÇÃO

  • Matt Ruskin

EQUIPE TÉCNICA

Produção: Nnamdi Asomugha, Matt Ruskin
Roteiro: Matt Ruskin
Fotografia: Ben Kutchins
Música: Mark De Gli Antoni
Montador: Paul Greenhouse, Joe Hutshing

ELENCO

Luke Forbes, Lakeith Stanfield, Adriane Lenox, Nnamdi Asomugha, Marsha Stephanie, Carlos Hendricks, James Udom, Mohammed Ali, Natalie Paul, Zach Grenier, Patrick Walsh, Josh Pais, Jennifer Fouche, Leon Morenzie, Skylan Brooks, James Ciccone, Lynne McCollough, Donny Yau, Nestor Carbonell, Jas Anderson, Ron Canada, Joel Van Liew, Amari Cheatom, Bruce Regenstreich, Ramon Fernandez, Gbenga Akinnagbe, Hunter Emery, Shana Solomon, Ron Piretti, Elliot Santiago ,Glenn Lee, Paul Douglas Anderson, Baboucarr Camara

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