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PiTacO do PapO - 'Desobediência' | 2018

NOTA 8.5

Por Rogério Machado



Pela recente filmografia do diretor e roteirista argentino Sebastián Lelio , percebemos o apreço do cineasta pelo universo feminino: 'Glória' (2013), mostrava as desventuras de uma mulher beirando os sessenta anos à voltas com sua solidão, e o ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro esse ano, 'Uma Mulher Fantástica' (2017), que narra os desafios de uma mulher trans  mesmo em questões cotidianas. Esse olhar clinicamente sensível através das facetas femininas, também transborda em 'Desobediência',  novo filme de Lelio que chegou no último fim de semana às salas brasileiras. 


No drama, Rachel Weisz é Ronit, uma fotógrafa que vive em Nova York e retorna para a cidade natal pela primeira vez em muitos anos em virtude da morte do pai, um respeitado rabino. Seu afastamento foi bastante abrupto, e sentimos  que seu reaparecimento é visto com desconfiança por toda comunidade Judaica. Surpreendentemente,  ela acaba acolhida por um amigo de infância, Dovid (Alessandro Nivola), que é cotado inclusive para dar continuidade ao sacerdócio de seu pai na sinagoga local uma vez que ele era uma espécie de 'filho espiritual' do  rabino. Para sua surpresa, Dovid está casado com sua paixão de juventude, Esti (Rachel McAdams). Uma reaproximação das duas estaria portanto prestes a acontecer.

Na primeira cena, uma palavra do rabino é dada a sinagoga à despeito do que diferencia homens e animais: 'aos homens é dado o livre arbítrio, aos animais resta o que o instinto diz'...  e é nesses moldes que o drama entre a judia que abandou as origens e a amiga que resolveu ficar e negar seus 'instintos' se constrói. Debaixo de uma tensão incomum ao gênero, o longa segue sob o domínio desse olhar especial de Lelio com respeito a sensibilidade feminina. Pode a princípio não parecer, mas à medida que a trama avança, não é a religião que dita o tom, e sim, a vontade própria vestida aqui destemidamente pela protagonista que naquele meio nada contra a corrente, mas que não se intimida com isso - prova disso são diversas sequências que denotam a força da personagem, como por exemplo quando ela pede pra ficar à sós com seu pai no túmulo dele ou na ida à sinagoga para a cerimonia da sucessão do rabino.

O enredo proposto no livro de Naomi Alderman em que se baseia o filme, é conduzido pela drama pessoal da protagonista, mas não deixa de se aprofundar nos laços afetivos de todos. Ao som de 'Lovesong' (do The Cure), 'Desobediência' examina situações de repressão de sentimentos, de liturgia e de legado de vida. Discreto no tratamento e sem sermões nas mensagens, Sebastián Lelio discute acomodação frente ao amor e moralismo deslocado, em que sexo ganha, pela visão de alguns, o eufemismo de "prazer sensual".

'Desobediência' tem o trunfo de um trio de protagonistas que cresce à cada cena e que brilha em conjunto, tornando grande também essa história sobre desejos reprimidos, vontades reveladas e escolhas feitas com cuidado. 


Vale Ver !

DIREÇÃO

  • Sebastián Lelio

EQUIPE TÉCNICA

Roteiro: Naomi Alderman, Rebecca Lenkiewicz, Sebastián Lelio
Produção: Ed Guiney, Martina Niland, Nicholas Goldfarb
Fotografia: Danny Cohen
Trilha Sonora: Matthew Herbert
Estúdio: Braven Films, Element Pictures, Film 4, Stage 6 Films
Montador: Nathan Nugent
Distribuidora: Sony

ELENCO

Alessandro Nivola, Alexis Zegerman, Allan Corduner, Anton Lesser, Benjamin Tuttlebee, Bernice Stegers, Cara Horgan, David Fleeshman, David Olawale Ayinde, Dominic Applewhite, Liza Sadovy, Mark Stobbart, Nicholas Woodeson, Omri Rose, Orlando Brooke, Rachel McAdams, Rachel Weisz, Sophia Brown, Steve Furst, Trevor Allan Davies

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