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Livro Vs. Filme : 'A Culpa é das Estrelas'

Por Vinícius Martins @cinemarcante


Na coluna de hoje, o comentário será sobre a febre adolescente de cinco anos atrás que movimentou milhões no mercado editorial e criou uma nova tendência, se tornando uma referência a ser superada até os dias de hoje.

Livro: A Culpa é das Estrelas, escrito por John Green
Filme: A Culpa é das Estrelas, dirigido por Josh Boone


O idolatrado livro A Culpa é das Estrelas se tornou o fenômeno de uma geração, e a chegada de sua adaptação aos cinemas era nitidamente apenas questão de tempo. A trama, contada em primeira pessoa por uma garota em sua jornada na luta contra o câncer, logo se tornou um romance abraçado como “o épico do nosso tempo”. É difícil um material de grande qualidade emplacar entre o público adolescente, uma vez que essa década foi marcada por 'Crepúsculo' e 'Cinquenta Tons de Cinza' (leitura mastigada, sem camadas, fantasiosa, que vitimiza e enaltece a figura da garota deslocada no meio em que vive e cujas atribuições que nem ela mesma sequer sabe que tem, chamam a atenção do figurão inalcançável). Se destacando entre essas obras questionáveis, a escrita de A Culpa é das Estrelas é, surpreendentemente, de uma qualidade inquestionável. A forma como Green narra as dificuldades em decorrência da doença e explora os sonhos e dilemas de quem a porta, é extremamente humana e fiel ao que aqueles que a vivem narram na vida real. E a fragilidade desse estado se mescla com a força da vontade de viver, fazendo dessa narrativa recheada de sarcasmos um deleite ao cérebro de qualquer leitor que busca encontrar um pouco de sentido na vida nesse mundo complicado.

O romance entre Hazel Grace e Gus logo ganhou espaço como um 'Romeu e Julieta' sem a guerra das famílias; um casal fadado ao fracasso, destinado à morte e cujo pouco tempo de amor se compensa com a intensidade com que ele é vivido. Afinal, quem não gosta da tragédia de um amor impossível?



A adaptação aos cinemas trouxe Shailene Woodley e Ansel Elgort no papel do casal protagonista, e ambos estão em performances absurdamente boas. A caracterização dos demais personagens (exceto, talvez, de Nat Wolff como o caolho Isaac, e Willem Dafoe como Peter Van Houten) ficou bastante fidedigna ao descrito na obra original. Mas o que premia o filme ao título de Ótima Adaptação é, sem dúvida nenhuma, o roteiro. Scott Neustadter e Michael Weber mantém toda a humanidade que há nas palavras de Green e acrescenta poesia audiovisual ao livro, distribuindo as informações e tirando os excessos das narrações em off para explicar algumas ações (um erro de 'Crepúsculo', por exemplo). Não é necessário falar o que está se sentindo quando a produção tem qualidade suficiente para mostrar isso em cena, apresentando as informações necessárias para a evolução da trama e gerando a empatia através de expressões, sorrisos e lágrimas que se fazem refletir no público quando vistos na tela. Há narrações em off no filme, claro, mas nenhuma delas desnecessária ou redundante. Cada palavra chega com o caráter de acréscimo ao que está sendo exibido, e poucos filmes conseguem esse feito.

Paixão, medo, aceitação e receio envolvem a história de amor entre um garoto mutilado e uma garota entediada enquanto tentam se redescobrir e aproveitar o tempo de vida que ainda lhes resta. Tal delicadeza se faz tanto no livro quanto no filme, mas pelo encarnar tão belo das palavras do autor e pela belíssima apresentação audiovisual, destaco que gosto mais do filme (que me fez chorar) do que do livro (que, apesar de fofo e bem escrito, não tem a manipulação da emoção com a presença da trilha sonora). Se as estrelas tem culpa em fazer amantes apaixonados acreditarem em sua eternidade terrena, John Green e Josh Boone tem culpa por desidratar muita gente no ler e no assistir dessa brilhante obra, que é um marco respeitável e afetuoso para leitores e cinéfilos.



'Papo de Cinemateca - Muito Cinema pra todo Mundo'


 



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