PiTacO do PapO - 'O Nome da Morte' | 2018
NOTA 9.0
Por Rogério Machado
Não sei porque, mas em determinada altura, durante a sessão de 'O Nome da Morte', filme estrelado por Marco Pigossi que chegou ontem aos cinemas, me veio à mente aquela velha teoria Yin Yang. O princÃpio dessa filosofia chinesa que dá conta que o lado preto representa a escuridão e o lado branco, a claridade, e que manter esses lados como mostrado no famoso desenho que já foi 'number one' em tatoos, representa o equilÃbrio entre o 'ser luz' e o 'ser escuridão'. E mais, que toda escuridão tem um pouco de luz e vice-versa. No personagem em questão essa teoria se encaixa perfeitamente, embora eu ache que existe um tipo de 'escuridão' que torna a entrada da luz quase impossÃvel. Eu disse quase...
A trama é livremente inspirada no livro homônimo do jornalista Klester Cavalcanti, que conta a história real de Júlio Santana (Pigossi) , um matador de aluguel que confessou ter assassinado 492 pessoas. Os crimes foram cometidos ao longo de mais de vinte anos de pistolagem e ele passou apenas uma única noite preso. A maior parte do tempo, Santana escondeu a vida de pistoleiro da mulher, Maria (Fabiana Nascimento) e do filho. Julio foi apresentado à esse submundo pelo tio ,CÃcero (André Mattos), e enquanto matava deliberadamente, ele vestia uma farda de policial e mantinha um emprego de fachada para justificar seu sustento.
O talento nato para matar, chamou a atenção também do Cabo Santos (Gillray Coutinho) , que lhe concedeu a farda e em determinado momento solta um irônico "Quem disse que pra entrar na polÃcia precisa de concurso?", afirmação essa que implica em um fato triste que deve ser recorrente em terras sem lei. Daà pra frente, as mortes vão acontecendo em grande número e a contagem ao longo da projeção (curiosamente com a tela toda preta e o numeral em branco) se encarrega de chocar o espectador pela facilidade com que Júlio vai se transformando: de um homem simples e ingênuo em um homem frio e que vê cifrões no lugar de pessoas.
Me pergunto em que momento Júlio se transformou em um monstro que não parecia sentir remorso por matar com tamanha desenvoltura. Pigossi, um jovem ator que vem despontando a cada papel, consegue imprimir toda impassibilidade do personagem com sequências em que ele 'traz de volta' o homem simples criado no interior, deixando transparecer em Ãnfimos momentos o medo e a insegurança.
Com a direção de Henrique Goldman ('Jean Charles' -2009) e roteiro de George Moura, 'O Nome da Morte' absorve bem todo o clima sombrio do tema em questão com rigores técnicos que muitas vezes não vemos no nosso cinema, como a fotografia e o design de som. Além claro de propor um bom debate sobre a trajetória do seu protagonista: Seria Júlio vÃtima da falta de oportunidades e de um sistema corrompido? Ou um homem que matava por prazer ou quem sabe instinto?
Super Vale Ver !
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