Adsense Cabeçalho

Dica do Papo - 'Carruagens de Fogo' | 1981

Por Rogério Machado


Houve um tempo em que as trilhas sonoras de cinema serviam como um cartão de visitas para a grande maioria das produções de hollywood, e  isso até hoje reverbera positivamente quando pensamos em diversos títulos que marcaram e ainda marcarão muitas gerações. Como esquecer dos violinos estridentes de 'Psicose', obra prima do mestre Hitchcok ? Ou ainda a marcha imperial da saga 'Star Wars'?  Não existe a possibilidade de ouvir essas canções e não lembrar do filme que as receberam tão bem. Em 'Carruagens de Fogo', a trilha sonora que leva o novo do filme é de Vangelis, que trás um piano sonoro com alguns toques eletrônicos - a música à partir dali ficou atrelada a eventos esportivos, como uma espécie de amuleto de superação e força. Eu não poderia, ao falar de 'Carruagens de Fogo', ganhador de quatro Oscar em 1982 incluindo o de melhor filme, não começar falando sobre a música marcante, que ecoa até os dias de hoje. 


O longa do diretor e roteirista Hugh Hudson , se passa nos dias que antecedem 
as Olimpíadas de 1924, em Paris, onde seremos apresentados à Eric Liddell (Ian Charleson) e Harold Abrahams (Ben Cross) que pretendem disputá-la, mas seguem caminhos bem diferentes: Liddell é um missionário escocês que corre em devoção a Deus. Já Abrahams é filho de um judeu que enriqueceu recentemente e deseja provar sua capacidade para a sociedade de Cambridge. Liddell corre usando seu talento natural, enquanto que Abrahams resolve contratar um treinador. Ambos seguem as eliminatórias sem problemas, até que uma das classificatórias de Liddell é marcada para domingo. Ele se recusa a competir, por ser este um dia santo. Percebendo a situação, um nobre oferece a Liddell sua vaga na disputa dos 400 metros. A partir de então, os dois integram a equipe do Reino Unido para as Olimpíadas.

Ainda que o fio condutor da narrativa seja a competição entre Eric e Abrahams, “Carruagens de Fogo” tem uma abordagem mais intimista que toca em outros temas interessantes como a xenofobia e o preconceito contra os judeus, responsável pelo sofrimento de Abrahams evidenciado num jantar com Sybil (Alice Krige), e também contra outros povos, evidente na rejeição dos supervisores de Cambridge ao treinador Sam Mussabini, descendente de italianos e árabes. “Sou inglês em primeiro e último lugar”, afirma Abrahams em certo momento, ilustrando sua preocupação em ser aceito numa sociedade extremamente preconceituosa. Ilustrando este sofrimento de maneira convincente, Ben Cross leva bem o papel, demonstrando ainda a determinação do personagem em sua busca constante pela vitória, que é também uma das marcas de seu concorrente. Essencial nesta busca, o treinador Sam conta com o carisma de Ian Holm, que rouba a cena sempre que surge, passando muita confiança no que diz e convencendo tanto Abrahams quanto o espectador de que ele conhece muito sobre o assunto.


Conduzindo a trajetória de Eric e Abrahams em paralelo na primeira metade do longa, o diretor Hugh Hudson foca mais nos personagens e em seus dilemas do que na competição entre eles, o que confere um ritmo lento que eventualmente é quebrado pelas competições e, ao mesmo tempo, nos prepara para o encontro deles nos esperados Jogos Olímpicos. Para isto, ele conta com a montagem de Terry Rawlings, que não consegue fugir da abordagem episódica, utilizando até mesmo letreiros para indicar a passagem do tempo e saltar de 1978 para 1924 e, em seguida, para 1919, sobressaindo-se apenas em momentos especiais como os treinamentos e as competições oficiais. Da mesma forma, são raros os momentos em que a direção de Hudson chama a atenção, como quando a câmera passeia pelos personagens na chegada dos alunos a Cambridge. E de tanto utilizar a câmera lenta, Hudson acaba esvaziando o impacto desta técnica no terceiro ato, desgastando o efeito ao longo da projeção.

Ainda que saia da mesmice ao abordar temas interessantes como a xenofobia e o fanatismo religioso e ganhe créditos por priorizar os personagens e não as competições, a belíssima trilha sonora de Vangelis é mesmo o que “Carruagens de Fogo” tem de melhor. A quem possa  interessar, a vida de Eric Liddel após as olimpíadas ao assumir totalmente seus trabalhos como missionário, podem ser vistos no filme 'Em Busca da Liberdade', estrelado pelo sempre competente, Joseph Fiennes. 

Anyway,  clássico é clássico,  e 'Carruagens de Fogo' está entre o grandes filmes de temas esportivos de todos os tempos. 





Nenhum comentário