Especial : Filmes Políticos - Parte 3 | O Ícone
Por Vinícius Martins @cinemarcante
Hoje falaremos sobre pessoas e movimentos que se tornaram referência em lutas políticas. Foi feita a escolha de não usar ícones fictícios, sejam eles indivíduos ou movimentos (como o já analisado 'V de Vingança’). Tive vontade de dissertar sobre diversas obras e figuras históricas, tais como Margareth Thatcher em ‘A Dama de Ferro’, o famoso presidente americano Lincoln, Malcolm X, J. Edgar e até às peripécias da coroa britânica atual vistas em ‘A Rainha’.
Os filmes a seguir foram selecionados a dedo, sobrepondo esses citados acima, e expõem como a luta por ideais pode ser dolorosa e, em alguns casos, mortal. Comecemos, então, por um épico indispensável: ‘Elizabeth - A Era de Ouro’!
➽Elizabeth: A Era de Ouro
O ícone da livre crença
Em uma primeira vista, ‘Elizabeth: A Era de Ouro' parece ser mais um desses filmes históricos tediosos sobre a monarquia britânica - o que acaba sendo, na verdade, um grande equívoco. Para quem é amante de história, esse filme é uma refeição deliciosa em que são analisados os fatores religiosos em interferência na vida política. A trama segue contando a história da rainha Elizabeth I em sequência ao filme de 1998 também estrelado por Cate Blanchett, que dessa vez tem como rival o Rei Filipe II da Espanha. O Rei, em sua arrogância, quer derrubar o modelo protestante acolhido por Elizabeth, tirando-a do poder e empregando o catolicismo na Inglaterra em definitivo. Seu único empecilho, no entanto, é a falta de um argumento plausível para esse feito, o que faz com que Elizabeth tenha, obrigatoriamente, que andar na linha para não dar razão ao adversário.
Só que, por mais que se pareça, esta não é uma história sobre a política em si, mas sim sobre a mulher que se viu obrigada a ser forte por causa do sangue que carregava nas veias. Toda a fragilidade de Elizabeth (Isabel, como era seu nome de batismo) é exposta em contraste com a figura de pulso firme que defende seu povo e sua liberdade com unhas e dentes, que tem que lidar com dilemas morais (como executar uma Rainha traidora, que era também sua prima) e enfrentar toda a pressão que a coroa impunha sobre sua sanidade. O filme mostra que a Rainha era, antes de tudo, uma mulher - com desejos, sentimentos e paixões - que vivia além do seu tempo. Uma das cenas mais arrepiantes que já vi é quando ela, após ouvir que viria um vento e varreria todo o seu orgulho, gritou ser capaz de também controlar os ventos. Tal promessa se fez valer na histórica vitória sobre a armada naval espanhola, e isso mudou o curso da história mundial. Elizabeth foi uma mulher que se preparou para a guerra esperando não precisar lutá-la, e defendeu seu direito de não se casar e a liberdade de acreditar no que quisesse sem ser obrigada a se submeter ou se curvar perante ideais que não fossem compatíveis com suas crenças. O mundo precisa de mais pessoas como ela. Hoje.
Só que, por mais que se pareça, esta não é uma história sobre a política em si, mas sim sobre a mulher que se viu obrigada a ser forte por causa do sangue que carregava nas veias. Toda a fragilidade de Elizabeth (Isabel, como era seu nome de batismo) é exposta em contraste com a figura de pulso firme que defende seu povo e sua liberdade com unhas e dentes, que tem que lidar com dilemas morais (como executar uma Rainha traidora, que era também sua prima) e enfrentar toda a pressão que a coroa impunha sobre sua sanidade. O filme mostra que a Rainha era, antes de tudo, uma mulher - com desejos, sentimentos e paixões - que vivia além do seu tempo. Uma das cenas mais arrepiantes que já vi é quando ela, após ouvir que viria um vento e varreria todo o seu orgulho, gritou ser capaz de também controlar os ventos. Tal promessa se fez valer na histórica vitória sobre a armada naval espanhola, e isso mudou o curso da história mundial. Elizabeth foi uma mulher que se preparou para a guerra esperando não precisar lutá-la, e defendeu seu direito de não se casar e a liberdade de acreditar no que quisesse sem ser obrigada a se submeter ou se curvar perante ideais que não fossem compatíveis com suas crenças. O mundo precisa de mais pessoas como ela. Hoje.
A palavra que melhor define o filme é: Pulso.
➽O Destino de uma Nação
O ícone da salvação
A controversa figura de Winston Churchill foi retratada com louvor por Gary Oldman em 'O Destino de Uma Nação’, e o papel até lhe rendeu o Oscar de Melhor Ator. É sobre essa figura com ares arrogantes que falaremos agora, mostrando que às vezes uma dose de prepotência pode surpreender e ser a guinada rumo à vitória. Churchill foi o responsável por uma manobra política que é a mescla entre inteligência, talento e um golpe de sorte. Resultado de sua temporada como primeiro ministro britânico: salvou milhares de soldados e ajudou a pôr fim na segunda guerra mundial.
Churchill não era um sujeito muito simpático, e nem era a primeira opção para o cargo, mas era um orador excepcional e provou ser um político honrado. Em meio ao caos instalado da segunda guerra, ele foi aquele que fez acontecer o que muitos tinham como impossível. Hoje milhares de famílias britânicas existem graças aos esforços de Churchill em trazer seus soldados de volta com vida na operação Dínamo, em Dunquerque. Se quiser saber mais sobre o quão importante ele foi, confira a nossa crítica ao filme e assista também Dunkirk, que mostra o bruto da ação do homem excepcional viciado em charutos cubanos.
Churchill não era um sujeito muito simpático, e nem era a primeira opção para o cargo, mas era um orador excepcional e provou ser um político honrado. Em meio ao caos instalado da segunda guerra, ele foi aquele que fez acontecer o que muitos tinham como impossível. Hoje milhares de famílias britânicas existem graças aos esforços de Churchill em trazer seus soldados de volta com vida na operação Dínamo, em Dunquerque. Se quiser saber mais sobre o quão importante ele foi, confira a nossa crítica ao filme e assista também Dunkirk, que mostra o bruto da ação do homem excepcional viciado em charutos cubanos.
A palavra que melhor define o filme é: Coragem.
➽Milk: A Voz da Igualdade
O ícone da diversidade sexual
O mundo está em constante movimento. Ele pende algumas vezes no sentido do progresso, outras no do retrocesso. Essas engrenagens sociais dão um certo equilíbrio ao mundo e geram a necessidade humana de classificar o que é tolerável e o que não é. Esse processo costuma resultar na criação de ícones (como Rosa Parks, a mulher negra que se recusou a ceder a cadeira no ônibus para um branco), e esse é exatamente o caso de Harvey Milk - cidadão contribuinte, trabalhador, uma pessoa de bem, homossexual.
Para a sociedade da época, Harvey era quase uma aberração por ter um namorado e ser um aspirante a empresário do ramo de fotografia; e sua luta individual pelo direito de ser quem ele queria ser tornou-o, involuntariamente, a voz de um movimento que começava a abrir as mentes, as portas das oportunidades e também as portas dos armários de muitos machões. No entanto, vale notar que a princípio Harvey Milk não queria apoio, nem holofotes, nem que todos os seus iguais o admirassem. Ele só exigia o mínimo que se deve dar a qualquer cidadão: respeito. E seu grito logo se tornou um ideal político, levando Harvey a se candidatar na política e, após três tentativas fracassadas, se tornando o primeiro homossexual assumido a ser eleito para um cargo público na história dos Estados Unidos.
Para a sociedade da época, Harvey era quase uma aberração por ter um namorado e ser um aspirante a empresário do ramo de fotografia; e sua luta individual pelo direito de ser quem ele queria ser tornou-o, involuntariamente, a voz de um movimento que começava a abrir as mentes, as portas das oportunidades e também as portas dos armários de muitos machões. No entanto, vale notar que a princípio Harvey Milk não queria apoio, nem holofotes, nem que todos os seus iguais o admirassem. Ele só exigia o mínimo que se deve dar a qualquer cidadão: respeito. E seu grito logo se tornou um ideal político, levando Harvey a se candidatar na política e, após três tentativas fracassadas, se tornando o primeiro homossexual assumido a ser eleito para um cargo público na história dos Estados Unidos.
As tais engrenagens sociais de que falei acima sofrem abalos de tempos em tempos, ora para um sentido e ora para o outro, que fazem as polaridades se inverterem e desestabilizam o status quo. Se a ascensão de Milk foi passo adiante na jornada da busca pelo respeito mútuo, sua queda foi resultante de um retrocesso. Harvey Milk foi assassinado com o prefeito de San Francisco, e a motivação foi pura e friamente política. Porém, a intenção de tirar Milk do cargo e calar sua voz acabou tornando a figura de poses teatrais um mártir, sinalizando que o tiro saiu pela culatra. 'Milk' é, ainda hoje, um ícone de coragem para milhares de pessoas, e sua vida política, por mais curta que tenha sido, reverbera até hoje no cenário mundial.
A palavra que melhor define o filme é: Atitude.
➽Selma: Uma Luta Pela Igualdade
O ícone da política racial
Os conceitos de igualdade são redefinidos a cada novo movimento social. Há debates, acordos e, por fim, o mútuo consentimento. Só que, infelizmente, não é sempre assim que acontece na política. Às vezes é necessário sair de casa, tomar as ruas, gritar em coro e mostrar sua indignação publicamente. A marcha de Selma até Montgomery é o melhor exemplo disso, provando a intolerância de algumas entidades políticas à mudança. Um confronto histórico, banhando as ruas de sangue e enchendo o ar com os gritos daqueles que queriam ter voz pública e escolher seus próprios representantes políticos.
A história cruel e real do que ocorreu em Selma e envolveu Martin Luther King, ganhador do prêmio Nobel da Paz, é tão icônica e insensata que parece até coisa de cinema - uma dessas crônicas romanceadas que tentam dificultar ao máximo a vida dos mocinhos antes de lhes dar o resultado final esperado. É doloroso ver o direito dos negros ao voto, hoje algo tão simples, sendo a razão de mortes e violência gratuita. Termino o comentário com uma das frases mais famosas de King, que diz: “Aprendemos a voar como pássaros e a nadar como peixes, mas não aprendemos a conviver como irmãos”.
A história cruel e real do que ocorreu em Selma e envolveu Martin Luther King, ganhador do prêmio Nobel da Paz, é tão icônica e insensata que parece até coisa de cinema - uma dessas crônicas romanceadas que tentam dificultar ao máximo a vida dos mocinhos antes de lhes dar o resultado final esperado. É doloroso ver o direito dos negros ao voto, hoje algo tão simples, sendo a razão de mortes e violência gratuita. Termino o comentário com uma das frases mais famosas de King, que diz: “Aprendemos a voar como pássaros e a nadar como peixes, mas não aprendemos a conviver como irmãos”.
A palavra que melhor define o filme é: Vergonha.
➽As Sufragistas
O ícone do feminismo raíz
Algumas coisas hoje são tão comuns que é quase difícil imaginar que algum dia no passado alguém teve que lutar para conquistar tal normalidade. O direito feminino ao voto é um desses atos hoje comuns, que em um passado não tão distante gerou uma onda de manifestações na Inglaterra. Carey Mulligan interpreta uma personagem fictícia que retrata com qualidade o que foi vivido por muitas mulheres do início do último século.
Acusadas de vandalismo e reprimidas por seu anseio de voz ativa tanto fora quanto dentro de casa, as sufragistas se tornaram uma marca de resistência e persistência política. Perseguidas pela polícia e muitas vezes tratadas como inferiores, as mulheres da história foram interpretadas também por Helena Bonham Carter e Meryl Streep, entre outros nomes menos conhecidos. O porém do filme é a escolha em retratar apenas mulheres brancas, mesmo no corpo de figurantes, e isso gerou algumas repercussões quanto ao compromisso da produção em retratar a realidade. No mais, o filme é ótimo para compreender o que é a luta pelos direitos das mulheres e abraçar a causa do real feminismo em sua essência - e não as ramificações lamentáveis do grupo que se vêem por aí hoje em dia.
Acusadas de vandalismo e reprimidas por seu anseio de voz ativa tanto fora quanto dentro de casa, as sufragistas se tornaram uma marca de resistência e persistência política. Perseguidas pela polícia e muitas vezes tratadas como inferiores, as mulheres da história foram interpretadas também por Helena Bonham Carter e Meryl Streep, entre outros nomes menos conhecidos. O porém do filme é a escolha em retratar apenas mulheres brancas, mesmo no corpo de figurantes, e isso gerou algumas repercussões quanto ao compromisso da produção em retratar a realidade. No mais, o filme é ótimo para compreender o que é a luta pelos direitos das mulheres e abraçar a causa do real feminismo em sua essência - e não as ramificações lamentáveis do grupo que se vêem por aí hoje em dia.
A palavra que melhor define o filme é: Audácia.
➽A Lista de Schindler
O ícone da compaixão
Um dos melhores filmes a vencer o Oscar de Melhor Filme é, sem dúvida nenhuma, o clássico 'A Lista de Schindler’, dirigido com brilhantismo por um excelente Steven Spielberg no auge da carreira. Oscar Schindler foi um empresário que, durante a segunda guerra, salvou a vida de milhares de judeus em sua manobra arriscada de burlar o sistema nazista sob o argumento de que precisava de mão de obra. O homem, que no filme foi interpretado por Liam Neeson, mostrou ao mundo que, acima da política, deve estar aquilo que nunca deveríamos abandonar: a nossa humanidade.
O filme é longo, em preto e branco, e emociona pelo impacto da devastação do movimento nazista e pela inocência violada de milhares que tinham tudo para viver futuros promissores, e que tiveram suas vozes caladas por causa de um ideal egoísta e mesquinho. 'A Lista de Schindler’ é uma aula de história, de política, de cinema e, principalmente, de compaixão. O triste aqui é que fica evidente que uma pessoa bem intencionada em situações assim se destaca mais do que uma garotinha de vestido vermelho em meio às cinzas de uma guerra ingrata.
O filme é longo, em preto e branco, e emociona pelo impacto da devastação do movimento nazista e pela inocência violada de milhares que tinham tudo para viver futuros promissores, e que tiveram suas vozes caladas por causa de um ideal egoísta e mesquinho. 'A Lista de Schindler’ é uma aula de história, de política, de cinema e, principalmente, de compaixão. O triste aqui é que fica evidente que uma pessoa bem intencionada em situações assim se destaca mais do que uma garotinha de vestido vermelho em meio às cinzas de uma guerra ingrata.
A palavra que melhor define o filme é: Tristeza.
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Levo comigo uma política de respeito que diz o seguinte: a minha liberdade termina onde a sua começa. A busca dos ícones citados nesta terceira parte do especial de política era, em seu cerne, pela liberdade. Talvez seja essa a palavra que melhor defina o artigo de hoje como um todo. Liberdade.
Não deixe que tirem a sua. Nunca.
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