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Especial: Filmes Políticos - Parte 5 | O Conflito

Por Vinícius Martins @cinemarcante 


A lição de hoje vai mostrar a necessidade dos pacificadores no mundo, que buscam entregar uma resolução de conflitos que favoreça a todos da melhor maneira possível, mesmo que às vezes precisem de medidas sujas para conquistar seus objetivos. Veremos também um excelente exemplo de como a política se torna pessoal quando dois candidatos tão opostos concorrem a um cargo público.

Apesar de abordar diretamente a política e como ela lida com esses dilemas morais, o critério aqui é mais humano do que político, usando como base o bom senso e uma lógica fria e calculista para entender as estratégias e as razões que levam cada modelo de guerra a acontecer.


➽Watchmen - O Filme

O conflito que gera união

'Watchmen' é uma obra genial da primeira à última página. Veremos, daqui algumas semanas, um especial dele na coluna Livro vs Filme, falando sobre os acertos e os erros da produção dirigida por Zack Snyder. Por hora, vamos nos limitar a comentar a política e os conceitos que se misturam nas vastas camadas dessa obra insuperável. Para quem não conhece 'Watchmen', eu explico: muito do espírito de 'Watchmen' está em 'Os Incríveis' no que diz respeito a segregação dos heróis e a leis que inibem suas atuações. Para entender 'Watchmen' de primeira, tenha em mente que a era de ouro dos heróis já foi e os prejuízos e sequelas ficaram para contar história e manchar suas imagens. A trama se passa na era Nixon, que teve um grande destaque no capítulo anterior desse especial, e, apesar de se passar em um mundo paralelo ao nosso, é perfeitamente adequado trazer a mensagem da HQ para a nossa realidade política, principalmente em se tratando do atual cenário político mundial.



A partir daqui terá um spoiler do tamanho do Godzilla sobre a resolução do grande impasse da novela, por isso peço que só continue se tiver visto o filme ou lido a graphic novel. Caso não tenha feito nenhuma dessas coisas, veja e depois retome a leitura deste tópico; do contrário, siga para o próximo filme da lista. Não estrague a própria experiência de contemplar 'Watchmen'.

O homem mais inteligente do mundo, um cara podre de rico chamado Ozymandias, tem a brilhante ideia de unir as nações para impedir que se erga uma nova guerra mundial. Como ele faz isso? Fácil! Criando para os países um inimigo em comum, uma ameaça de que sozinhos nenhum deles poderá combater - e usa seu “colega” de combate, o poderosíssimo Doutor Manhattan, como “boi de piranha” nessa empreitada rumo à paz mundial. O plano dá certo e os conflitos da guerra fria são deixados de lado, esquecidos, em nome da causa maior de salvar a humanidade como unidade. O resultado disso para o Doutor Manhattan é o banimento, mas vamos deixar essa conversa para o Livro vs Filme, temos muito a falar desse final polêmico.

A palavra que melhor define o filme é: Inteligência.


➽A Chegada

O conflito proveniente da incompreensão

O homem teme o que não compreende, e é verdade. O verbo temer aqui serve tanto no sentido de ter respeito quanto no de ter medo. O pavor da ideia de confrontar o desconhecido é um assunto recorrente no cinema, e a chegada de alienígenas ao planeta Terra é um tema recorrente nas superproduções hollywoodianas. Em 'A Chegada’, porém, as crônicas fantasiosas quanto ao primeiro contato com a vida extraterrestre ganha ares de coerência até então não vistos, mantendo sempre os pés no chão (não literalmente, é claro) na proposta de retratar tudo com o máximo de realismo possível no que se trata da reação humana ao evento.



Um dos efeitos colaterais imediatos é, sem margem para erro, a cogitação de que os visitantes sejam hostis e representem uma ameaça para o nosso mundo. A forma como cada nação interpretaria a aproximação de uma raça alienígena seria diferente, e o fato de não entendermos com antecipação o objetivo da vinda dos alienígenas resultaria em uma paranoia (ou não) derivada da incapacidade de entender a outra espécie. O resultado: guerra. Políticos exercendo sua autoridade e assumindo posições ofensivas sob argumentos defensivos não tardariam a acontecer, e tudo logo se tornaria um caos.

Trazendo a situação do filme para o hoje e eliminando o fator dos aliens, dá para entender o que gera tantos conflitos e faz milhares de pessoas perderem suas vidas todos os anos. A falta de diálogo entre os governantes, a ausência de um comum acordo, gera um confronto entre as nações que poderia ser facilmente resolvido, mas que não se desenvolve por falta de disposição em entender a necessidade do outro. No caso de 'A Chegada’, vemos o quão despreparados estamos como unidade para lidar com uma situação desse porte. Com os conceitos políticos que temos hoje em dia, o que conseguiríamos, no mínimo, seria provocar uma guerra intergaláctica.

A palavra que melhor define o filme é: Empatia.


➽O Jardineiro Fiel

O conflito de interesses

O premiado longa do diretor Fernando Meirelles é uma denúncia de duas horas ao uso indevido das autoridades políticas africanas sobre o seu povo, colocando-o em risco ao aceitar lucrar com a indústria farmacêutica e seus testes laboratoriais. Usar cidadãos pobres e necessitados de cuidados como cobaias (com a apresentação de trabalho voluntário) acaba sendo um esquema rentável, mas logo uma ativista (Rachel Weisz) percebe o esquema e se empenha em combatê-lo. O que ela alcança, com isso, é a morte. Seu marido, um botânico interpretado por Ralph Fiennes, decide seguir com o trabalho da finada esposa para encontrar a fonte da ordem de seu assassinato, os responsáveis pela morte dela.



O que era para ele uma questão pessoal, ganha uma dimensão ainda maior quando ele se dá conta de quantas pessoas estão dependendo do sucesso da denúncia contra o sistema, e o interesse do governo, que deveria ser beneficiar o povo, se confirma estritamente comercial. Ele descobre o envolvimento de indústrias europeias, faz viagens continentais e no fim, após muita luta, desmascara os absurdos pagando com tudo que ainda lhe restava. Fica a mensagem que serve de alerta para qualquer nação: quanto mais se lucra com a desgraça alheia, mais forte fica o monstro da corrupção.


➽Os Candidatos

O conflito de ideologias

Muito do que se vê na comédia 'Os Candidatos', estrelada por Zach Galifianakis e Will Farrell, se viu também na corrida eleitoral brasileira deste ano. A sátira política de 2012 é reflexo de conflitos fúteis entre candidatos, que ocorrem periodicamente e são a causa de muita vergonha alheia. No filme, dois homens totalmente distintos se propõem a representar o estado da Carolina do Norte no congresso americano, suas propostas e personalidades tão opostas entram em choque enquanto um tenta provar para o outro (mais até do que para a população votante) que é a melhor escolha possível para os interesses do estado. Enquanto isso, lidam com pressões partidárias e com o próprio sistema em que pretendem se inserir.



Não é difícil comparar o filme com o segundo turno presidencial do Brasil das eleições 2018. Tanto de um lado quanto de outro, os candidatos gritam aos quatro ventos que são a melhor opção e apontam os erros do adversário, apresentando o passado tenebroso do outro em vídeos de uma década e declarações já ocorridas, além de revisar as denúncias de corrupção contra a figura do outro e do seu partido. A realidade aqui vai além de competir para quem tem mais fotos beijando bebês, e se foca em querer provar para os milhões de eleitores que é o menos pior para assumir a presidência. Terminando as comparações, a maior diferença aqui é que o filme se esforça para ser engraçado enquanto a realidade se empenha em ser cada vez mais surpreendentemente assustadora.


➽Argo

O conflito do respeito diplomata

A história real da invasão à embaixada americana no Irã conquistou um Oscar memorável sob a direção e o protagonismo de Ben Affleck, no caso em que Hollywood teve que se meter para salvar o dia. Se há o impasse com algum governo, condena-se os representantes dele que estão lá em baixo na “cadeia alimentar”? Foi isso o que um grupo de militantes islâmicos fez para exigir a extradição de Mohammad Reza Pahlavi, ex governante do país. Essa história pode ser vista por dois pontos de vista e defendida por ambos.



De um lado, um povo que clama por justiça e exige que os Estados Unidos e seus aliados (o Egito, nesse caso em especial) parem de se meter e devolvam Reza Pahlavi para ser executado pela corrupção de si mesmo e de sua família, e em especial pelo seu pensamento secular e modernista. A queda de Pahlavi foi um fato importantíssimo para o Irã e resultou no fim da monarquia no país, e eles queriam a qualquer custo consumar esse feito com a morte do ex líder. Porém, do outro lado, um grupo de pessoas que não tem o poder de dar a ordem de resolução do conflito, e acabam ficando confinadas como reféns por causa da nacionalidade que possuem, o que provoca a ira do extremismo que exige justiça a qualquer custo, usando a ideia de que para conquistar os fins pode ser usado um horrível esquema de atrocidades nos meios para alcançar tal objetivo.

Só que, nesse processo, as vidas de várias pessoas  inocentes ficaram em risco em represália a essa aliança “contra” o povo iraniano. E o golpe contra a embaixada fez com que algumas dessas pessoas buscassem refúgio na embaixada do vizinho Canadá enquanto armava-se todo um esquema para extraí-los de lá em segurança, que envolvia até mesmo criar um filme fictício para tornar possível o regresso deles. O final é de roer as unhas, e recomendo veementemente a todos.

A palavra que melhor define o filme é: Desrespeito.

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Veremos, no próximo e último ato deste especial político, o cinema brasileiro em ação enquanto tenta lidar com os avisos e engajamentos políticos que movimentam o país. E você? Também acredita que ainda há chances para a paz? Deixe nos comentários!




   

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