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PiTacO do PapO - 'Animais Fantásticos : Os Crimes de Grindelwald' | 2018

NOTA 7.0

É bom, mas...

Por Vinícius Martins @cinemarcante


Os problemas do filme começam pelo título. Algumas franquias como 'Madagascar’ e 'A Era do Gelo’ apresentam incoerências nos nomes de seus filmes: no primeiro exemplo, só o primeiro filme se passa realmente em Madagascar; no segundo, apenas no primeiro filme há de fato uma era glacial. As sequências permanecem sob o mesmo título da primeira produção para gerar a identificação do público, mas dentro da narrativa ficam contraditórias com o enredo apresentado. Esse conflito ocorre em 'Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald’ de duas maneiras: os animais, apesar de belos, são quase totalmente descartáveis; e Grindelwald não tem um espaço de coadjuvante tão grande para merecer o destaque do subtítulo, nem tampouco seus prometidos crimes.

O filme acerta muito no visual e na direção de arte. A composição dos figurinos, compondo a personalidade de cada indivíduo, é um feito lindo de ver (como o projeto de uniforme nazista que é o sobretudo de Grindelwald). A direção de David Yates é forte e aqui mostra que o homem tem uma assinatura notável, e a produção de sempre de David Heyman não deixa em nada a desejar. Há uma chuva constante de fan-services que cai sobre o público fiel, e nem a polêmica acerca da presença de McGonagall (que nasceu, segundo a cronologia oficial da saga 'Harry Potter’, anos depois dos acontecimentos desse filme, em 1935 - isso se for mesmo Minerva McGonagall e não alguma parente) consegue tirar o charme que a história tem em todo o carisma expresso tanto pelos personagens novos quanto pelos velhos, e que é igualmente visto nos que retornam em suas versões mais jovens. Entretanto o filme peca ao definir seu público e tratá-la como uniforme.


O que é ótimo para o fã, no entanto, se torna um problema para o espectador ocasional. Para quem não está habituado com o universo mágico e as tramas costuradas das histórias criadas por J. K. Rowling, a narrativa fica confusa e bagunçada; o filme se torna uma obra de aleatoriedades sem começo e sem final, cujo meio é um emaranhado de palavras balbuciadas em uma correria que finge ir a algum lugar. Traçando um paralelo com as obras do Universo Cinematográfico Marvel, os filmes complementam as tramas passadas e acrescentam elementos para as produções posteriores, mas apesar de serem uma parte de um todo muito maior, são roteiros episódicos com início, meio e fim. 'Thor: O Mundo Sombrio’ é um exemplo: o problema enfrentado pelo herói se resolve ali mesmo, deixando na última cena um gancho para um problema novo para a próxima obra que culminará, em conjunto com os outros episódios, em um clímax majestoso. Isso, infelizmente, não se vê nos filmes de 'Harry Potter’ e de 'Animais Fantásticos’, mesmo apesar de serem muito bons. No caso de 'Os Crimes de Grindelwald’, a jornada não avança tanto e o roteiro se furta no uso de escapismos convenientes. Faltam justificativas plausíveis para a presença de alguns personagens e para o tempo que ocupam em tela, fazendo com que a primeira metade do filme seja como uma boa e velha artimanha de “encheção de linguiça”.

Esse aspecto, todavia, não tira a qualidade do segundo capítulo da saga de Newt Scamander, que retorna sob a interpretação envolvente de Eddie Redmayne, vencedor do Oscar e fã confesso dos livros de Rowling. O 3D é um trabalho adequado e não somente uma ferramenta caça níquel, enriquecendo o universo mágico e auxiliando na imersão ao filme. Este é um longa metragem que merece ser visto no cinema, em IMAX 3D, mas não mais de uma vez. Como roteirista, Rowling é uma ótima escritora de livros. Por querer abordar diversas tramas em seu segundo roteiro original, ela terminou por não aprofundar nenhuma delas e entregou seu trabalho mais raso - mas não necessariamente menos intenso. Aguardemos mais dois anos para o próximo capítulo da saga de Scamander, e torçamos para que ele protagonize de verdade da próxima vez.

Vale Ver !


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