Adsense Cabeçalho

PiTacO do PapO - 'Hobin Hood - A Origem' | 2018

NOTA 4.0

Alguém pare Hollywood, pelo amor de Deus!

Por Vinícius Martins @cinemarcante


Lembro-me que escrevi meses atrás, em um artigo ou uma crítica, sobre os modismos e as tendências da indústria do cinema. Hollywood cria uma moda, suga até esgotá-la, e depois cria uma outra nova para fazer o mesmo, sucessivamente, em um ciclo vicioso que só faz regredir ao invés de evoluir. Teve a temporada dos vampiros adolescentes e suas variantes mitológicas, teve a vez das distopias adolescentes, dos romances adolescentes onde o cara do casal sempre morre no final, animações com coadjuvantes amarelos atrapalhados, e a onda agora dominante é a dos filmes refeitos com uma etiqueta subtitulada “A Origem”. Posso citar uma dúzia de filmes assim lançados só nesta década, mas não estamos fazendo uma lista, então vamos direto ao que interessa: 'Robin Hood - A Origem’.

Para comentarmos devidamente o enquadramento do novo longa do príncipe dos ladrões, vamos antes classificar esses filmes de origem em três grupos distintos. O primeiro é aquele onde o filme acrescenta elementos à franquia, enriquece a história do universo a qual pertence e dá abertura para boas sequências, criando novos rumos e se costurando ao filme original. ‘Planeta dos Macacos - A Origem’ é um exemplo perfeito. O segundo grupo é aquele que conta uma história isolada, redonda, que não tem a ambição de criar filmes posteriores mas sim de contar, como sugere o próprio título, uma história de origem para aquelas já contadas, sem ofender ou descontextualizar a própria franquia com contradições, e ponto final. 'Tainá 3: A Origem’ é um exemplo bastante cabível. E o terceiro grupo é o dos filmes que são feitos justamente no sentido oposto ao do segundo grupo, mas sem a nobreza do primeiro: filmes caça-níqueis. O pensamento de quem produz esses filmes é “vamos ressuscitar aquela franquia que não tem mais nenhuma novidade a oferecer, recontar a história de um jeito mais moderninho e fazer isso virar uma saga que nos traga dinheiro”. O exemplo mais recente é do começo de 2018, 'Tomb Raider - A Origem’.


Infelizmente, o que se vê em 'Robin Hood - A Origem’ é a encarnação do terceiro grupo. Isso reflete uma terrível crise de criatividade no cinema e evidencia o quão comercial ele é, colocando o dinheiro acima da arte de se fazer filmes por ter de fato algo interessante para contar. O elenco, mesmo com seus bons nomes e performances decentes, se esforça para criar uma atmosfera crível dentro da urgência proposta pelo roteiro - urgência essa que não é sentida, apenas citada e empurrada como verdade goela abaixo a cada cinco minutos do meio do filme em diante - O visual remete imediatamente ao adotado por Guy Ritchie em sua versão do Rei Arthur de 2017 (outro longa nessa tendência caça-níqueis), o que faz parecer diversas vezes que aquela história se passa no mesmo universo que essa, mesmo obviamente não sendo o caso. O novo filme de Robin Hood, apesar de ter lá sua graça e seu estilo despojado, não consegue esconder seu propósito estritamente comercial com o apelo ao populismo e a fórmula do pupilo (o final é absurdamente previsível, desde os trailers). Em paralelo, compara-se com a versão de 2010 dirigida por Ridley Scott, que mesmo sendo destinada a um público diferente, tinha, pelo menos, um ritmo constante e condizente com a alma do personagem. Atualmente, transformar ícones clássicos em playboys sarcásticos que aprendem uma lição de vida é mais fácil do que construir uma boa trama - afinal, a cartilha está aí e funciona, não é mesmo? Para quê arriscar e criar algo novo?

Curiosamente, o filme não é um desastre total. Algumas coisas funcionam isoladamente, e o vilão vivido por Ben Mendelsohn (excelente ator, devo destacar) é um festival de clichês agradáveis. Dentro dos limites que o longa dá a si mesmo, até funciona como um bom entretenimento para adolescentes, mas é só. O diretor Otto Bathurst, conhecido pelo seu excelente trabalho nas séries Black Mirror e Peaky Blinders, visivelmente se esforça para emular o clima político de protestos recriando o viés didático dos debates propostos em algumas de suas obras anteriores na televisão, mas isso funciona erroneamente aqui. Tenta-se transformar Robin Hood em um revolucionário, um ícone como Katniss Everdeen, e colocá-lo para liderar uma revolução, só que nada ganha tanta profundidade ao ponto de gerar a empatia necessária para que o público compre a briga.

No fim das contas, é quase possível dizer que esses filmes subtitulados de 'A Origem’ são parte de uma mesma franquia, de tão parecidos que eles são uns dos outros. Hollywood precisa se reinventar, ou pelo menos sair dessa fase ruim de querer estragar histórias consagradas reciclando uma mesma estrutura só porque ela dá dinheiro - e esse nem deve dar tanto assim, já que esse novo Robin Hood deixa evidenciado que essa moda está ficando gasta como as outras antes dela. O que será que vem por aí? Vamos torcer para que seja algo, no mínimo, prazeroso de se assistir.


Nem Vale Ver !



Nenhum comentário