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PiTacO do PapO - 'Rasga Coração' | 2018

NOTA 9.5

Por Rogério Machado 


'Eu acho que o simbólico de 'Rasga Coração' hoje é mais forte pra nós do que foi em qualquer outro momento..'  disse Ilda Santiago, a diretora do Festival do Rio, na abertura da Première Brasil do novo longa de Jorge Furtado que trata com um olhar carinhoso, dentro de uma família carioca de classe média, a repressão da ditadura e a briga pela liberdade de expressão em tempos cinzentos para os libertários. O filme é um dos grandes destaques entre a seleção nacional do festival e ainda segue sem precisão de estreia em circuito comercial.


Na história Marco Ricca é Custódio, mais conhecido como 'Manguari Pistolão', ele é ao mesmo tempo um herói e um homem comum que precisa lutar pelo sustento da família. Atuante na militância em boa parte da vida, agora ele terá que enfrentar o mesmo que seu pai enfrentou: o seu filho Luca (Chay Suede) pretende deixar a faculdade de medicina e ingressar de vez no movimento hippie, e num crescente conflito com as escolhas do filho, ele verá seu passado sendo reinventado na figura dele. Nena (Drica Moraes em mais um papel impagável) é a incansável esposa de Custódio que está a todo tempo  preocupada com a educação do filho e sempre interferindo na relação dele com a nova namorada, Mil (Luisa Arraes). 

Baseado na peça homônima de autoria de Oduvaldo Vianna Filho, montada nos anos 70,  o longa de Furtado traz duas linhas temporais:  volta no tempo na juventude de Custódio e retrata a amizade dele com o amigo Bundinha (George Sauma, que rouba a cena em diversas sequências, tanto no passado como no presente) e a luta desses jovens para ter liberdade de expressão e direito à uma política democrática em meio à ditadura militar. Nos tempos de hoje, o que vemos é um pai de família que já não tem os mesmos lemas daquela época, mas que tenta a todo tempo quebrar o vidro do conformismo que se abateu sobre ele com o passar dos anos.

O grande trunfo de 'Rasga Coração', sob a sempre delicada e primorosa alcunha de Jorge Furtado, é dar um toque afetuoso à um tema espinhoso: falar da ditadura e suas consequências, seu legado de traumas pelos olhos de um pai de família que carrega também a dor de uma perda que o acompanha até os dias de hoje. Os melhores valores, o amor e a amizade são patentes no projeto que só as singelezas de Furtado poderiam traduzir em um filme que fala à muitos em tempos como o nosso. 

Que as nossas revoluções internas não cessem nunca, e que o cinema esteja lá pra lembrar do nosso passado e fazer mudar nosso presente. 

Super Valer Ver !

* Direto do Festival do Rio 

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