PiTacO do PapO - 'A Voz do Silêncio' | 2018
NOTA 7.5
Vida de solidão
Por Rogério Machado
Será mesmo que não existe amor em SP? A música do cantor Crioulo que embala uma das muitas sequências em planos abertos sobre a cidade de São Paulo de 'A Voz do Silêncio', novo filme do diretor André Ristum ('O Outro Lado do Paraíso - 2016) que chegou essa semana aos cinemas, se encaixa como luva na odisseia de silencio e sofrimento encarada pelos personagens que protagonizam a trama. Aliás, até os intérpretes secundários recebem respingos da densidade imposta pela tristeza do dia a dia na cidade cinza.
Na trama, um grupo de solitários profissionais traduzem os conflitos diários de uma grande metrópole em meio a um eclipse lunar, chamado popularmente de 'Lua de Sangue'. O passar dos anos é impiedoso para todos é esses sete personagens, aparentemente comuns, conduzem suas vidas buscando, cada um, aquilo que acredita lhe trazer satisfação pessoal. Mas, mesmo com vidas distintas e distantes, eles se aproximam pela maneira como orientam suas existências com base em preocupações cotidianas, assim como mundanas.
Marieta Severo é Maria Cláudia, uma professora aposentada que vive na frente da tevê assistindo pregação e que aguarda ansiosa o retorno do filho de uma viagem pelo mundo. Ao contrário do que se pensa, sua personagem não é a protagonista, sua história não catalisa as demais. Ela é uma peça da engrenagem que arma as diferentes tramas do longa. Sua filha, Raquel (Stephanie de Jongh) é uma dançarina de pole dance que anseia em ser cantora. Alex (Arlindo Lopes) trabalha em um telemarketing e carrega um desconforto e uma timidez incomum, leva seus dias geralmente sozinho, com raras saídas com os amigos da empresa. Outros personagens, um dono de bar a beira da falência, um oficial de justiça que assedia mulheres e anda com travestis, mas ao mesmo tempo cuida da esposa, uma bailarina clássica, que está num hospital, e mais algumas peças nesse tabuleiro da vida, demonstram seus medos e fragilidades diante dos problemas que enfrentam.
Ristum distribui bem as peças desse jogo, mas apresenta seus personagens sem ousadia. Os segredos que cada um guarda e suas ligações com a história do outro não geram o impacto necessário dentro da proposta. O foco na solidão que cada um carrega no meio da grande São Paulo se sobrepõe à curiosidade sobre a ligação entre cada um deles. É um filme denso, pesado, mas em contra partida, pincela diversas lições sobre como não se comportar em sociedade e/ou em família.
Vale Ver !
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