Adsense Cabeçalho

PiTacO do PapO - 'Aquaman' | 2018 Crítica 2

NOTA 9.5

Morre uma piada, nasce um herói (ou: Nunca interrompa Nicole Kidman quando ela estiver contando uma história infantil)

Por Vinícius Martins @cinemarcante 


Lembro-me do estranho e esperado dia em que o Corintians ganhou seu título mundial de clubes. A piada que girava em torno da conquista até então não alcançada era tão forte que parecia, a muitos, que o time de São Paulo não conseguiria essa vitória histórica nunca. E quando aconteceu, memes tomaram a internet dizendo que agora a piada tinha acabado. Assim como esse caso de futebol, 'Aquaman' chegou aos cinemas desacreditado por muitos. O personagem sem credibilidade, que falava com peixes e usava um uniforme colorido estranho e fora dos padrões charmosos dos demais membros da Liga da Justiça, deixa agora de ser a chacota e entra para o hall glamuroso de super-heróis respeitados. E que filme incrível! Alguém dê um mundial para esse filme!


Muito dessa conquista de cair o queixo se deve a como o diretor James Wan se dedicou em dar coerência visual para a narrativa, ainda apresentando mais uma vez sua assinatura com movimentos de câmera furtivos em momentos de batalha e closes contemplativos quando se exige introspecção. 'Aquaman' é raçudo e não tem vergonha de seus próprios exageros. Se em 'Batman v Superman' Bruce Wayne se joga contra uma criança para livrá-la de escombros, aqui Arthur Curry se joga contra os escombros para tirar a criança de sua rota de colisão. Mas isso não quer dizer que os exageros sejam todos acertivos. Algumas coisas dependem da ignorância do espectador, como por exemplo a maneira com que Mera e Arthur saíram do deserto e foram para a Itália, que não foi citada e nem tampouco explicada. Entretanto, esses pontos são facilmente esquecíveis pela beleza das coreografias e da ação que se dá nas cenas seguintes. E é aí que o filme se prova um dos melhores roteiros escritos pela DC.

As lutas não são expostas para cumprir a cota de ação e violência que um filme desses pede. Aqui, a presença do vilão Arraia Negra não é gratuita, e nem tampouco a do meio irmão de Arthur, que é interpretado pelo velho conhecido do diretor, Patrick Wilson. O debate sobre consciência e preservação do meio ambiente se ergue com a mesma didática com que Killmonger, de 'Pantera Negra' (um vilão de muito potencial e presença, que poderia ter sido ainda mais explorado dentro do MCU), propôs sobre o racismo no mundo e a escravidão velada que se vê nos becos e vielas longe das áreas nobres das cidades. Aqui há um propósito de vingança, claro, mas também um conceito de justiça: cada um com seu cada um, e que o seu lixo fique com você.

Tecnicamente falando, o filme é um dos melhores já feitos pela DC e faz valer cada centavo do ingresso. É um filme pensado para o 3D, dada a profundidade das filmagens (ba-dum-tsss) e a excelente noção de distância que o olhar apurado do diretor tem. Com uma trilha embalada em vários gêneros musicais e pegando referências que remetem aos trabalhos de Hans Zimmer, Alan Silvestri, e Mark Mothersbaugh (de 'Thor: Ragnarok'), as emoções fluem naturalmente de uma sequência de ação para o drama sem que o público se dê conta que está sendo manipulado para a empatia. Esse tato, tão característico de Wan (que inclusive acrescenta aqui elementos de terror, gênero cinematográfico que o consagrou), torna seu trabalho tão humano e, de certo modo, singular, que seu nome ao ser atribuído a qualquer filme daqui para a frente será automaticamente sinonimo de qualidade. Um dia, muito em breve, veremos Wan concorrendo a um Oscar. Mas, antes disso, muita água ainda vai rolar.

Super Vale Ver !




Nenhum comentário