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PiTacO do PapO - 'Colette' | 2018

NOTA 7.0

Por Rafael Yonamine @cinemacrica


A obra se baseia na vida de uma das notáveis romancistas francesas, Colette. O recorte cinematográfico recai sobre os primeiros momentos do convívio conjugal dela e seu marido Willy até o momento em que relação se torna insustentável. Ele, um ganancioso escritor que publicava a obra de escritores-fantasmas e, em dado momento, de sua própria esposa. A omissão autoral, situação que já era potencialmente desconfortável, se acentua com a explosão da popularidade dos romances de Colette associada a ânsia do seu marido pela exploração abusiva desse dote.


Sem grandes reviravoltas de recortes, o roteiro é cronologicamente fluido e bem dimensionado ao estratificar precisamente o objeto dramático. Apesar de considerar que filmes de época com grande orçamento têm a obrigação de serem irretocáveis na direção de arte, Colette não decepciona e entrega uma boa execução. Destaque para o figurino e internas, já não foi tão surpreendente o retrato parisiense do início do século XX. No papel da protagonista, Keira Knightley é eficiente em gerar empatia. A interpretação da complexa cadeia de sofrimento conjugal, profissional e sexual é persuasiva. O diretor também é competente em apresentar diversos vértices pontiagudos interessantes centrados na figura do marido, mas alguns potenciais dramas são aparados.

O caráter interesseiro de Willy é bem construído. Essa perversidade é enriquecida com elementos que vão desde a explícita relação abusiva ao demandar produções aceleradas da esposa, como a ausência de amor e apetite sexual genuíno, descaso conjugal com a confissão de que o adultério masculino era algo esperado e falta de pudores na vida social. Entretanto, o potencial não é levado ao limite. Um exemplo seria explorar o paralelo de um elemento importante na vida de um casal: o apetite sexual. Enquanto Colette, genuinamente busca o marido após uma sequência de eventos agradáveis. O paralelo inverso, da negativa do marido, não oferece uma construção poderosa que é em seguida demolida, o que ocorre é um simples recorte isolado com o dizer "estou cansado". Outra potencialidade dramática distorcida é o uso da força para obter o cobiçado conteúdo criativo da esposa. Ao invés de propor uma sedução interesseira ou terror psicológico, afinal ao menos 3 livros foram produzidos nessa condição, vemos verborragias e atos simples como trancar Colette num quarto.

É uma obra agradável, mas não memorável, que retrata alguém explorada por um dote. E, por meio dele, capaz de superar essa adversidade. 

Vale Ver !




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