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PiTacO do PapO -'Bumblebee' | 2018

NOTA 7.0

Apelo ao cafona

Por Vinícius Martins @cinemarcante 


Quando 'Transformers: O Último Cavaleiro’ chegou aos cinemas, em julho de 2017, fui generoso na nota que dei em meu pitaco por uma questão bem simples: para assistir qualquer Transformers é necessário que se esteja aberto ao absurdo e à incoerência total, desde a oscilação das escalas vistas nos tamanhos dos robôs até às contradições dentro da própria mitologia estabelecida em seu universo cinematográfico, que anulam os filmes anteriores com um empenho tão grande quanto fazem os filmes dos 'X-Men’. Para abraçar Transformers é preciso compreender que seus filmes são sessões-pipoca, anular a expectativa de um roteiro profundo e contemplar o espetáculo visual que cada novo filme apresenta. Afinal, o que Transformers promete Transformer entrega, e só um tolo esperaria mais da série do que um compilado de explosões e rangidos metálicos.


Só que esse novo filme, o primeiro derivado da franquia nomeado 'Bumblebee’, tenta ser mais esperto do que os filmes anteriores e se recusa a entregar mais do mesmo. Já que a moda agora é lançar apelos oitentistas em Hollywood ('Jogador N°1’ é o melhor exemplo do ano), a jornada dos robôs “gente boa” retorna para aquela era de ouro em apelos a nostalgia que chegam agradáveis aos olhos e ouvidos; no entanto, ele falha quase miseravelmente nessa tentativa de ser diferente, já que esses elementos acrescidos não são mais do que adereços descartáveis - ou “enfeites para porco”, se preferir chamar assim. A trama dos Autobots não depende em hora nenhuma dos anos oitenta, mas ainda assim eles estão presentes no roteiro através de referências e reverências a músicas e filmes, tais como a banda The Smiths e 'O Clube dos Cinco’. Os anos oitenta não são só a época, mas também a composição do cenário a ser destruído para causar um impacto nostálgico no público mais velho. Pode até ser bacana, e fofo inclusive, mas só compica ainda mais a já confusa linha do tempo da franquia.

Um dos pontos contraditórios mais incômodos é o descuido que tiveram com algo muito bem explicado no primeiro filme, lá em 2007. Parece que, assim como nos filmes da Marvel, todos na vastidão imensa do universo falam em inglês (para o MCU em breve teremos um artigo apontando essa questão com mais detalhes). Em 'Transformers’, Optimus Prime explica que os robôs alienígenas aprenderam as línguas humanas ao acessar a internet. Em 'Bumblebee’, o robô que dá título ao filme recebe uma mensagem de Prime onde o líder dos Autobots fala em um inglês tão nítido que até a protagonista humana interpretada pela bela Halley Steinfeld consegue entender a mensagem perfeitamente. Bee chega na Terra e FALA com soldados que sua intenção é a paz, e todos entendem suas palavras, assim como a dupla inimiga que o persegue também já chega soltando o verbo com as pessoas civis na beira de uma estrada.

Aqui há um festival de clichês já vistos no decorrer da série, como um robô ser derrubado pelas forças armadas enquanto seu amiguinho humano grita “reaja! você é forte, vai conseguir, se levante e lute!” entre outras frases motivacionais; choques com impactos mortais onde só o vilão convenientemente morre esmagado; objetivos cujo foco é proteger a Terra e o seu povo nativo das forças do mal; e por aí vai. A própria protagonista é a junção do adolescente deslocado e sem dinheiro que foi Shia LaBeouf com o mecânico de relacionamento complicado a quem Mark Wahlberg deu vida. De fato, o longa dirigido por Travis Knight e produzido por Michael Bay e Steven Spielberg é exatamente mais do mesmo, só que sem as explorações megalomaníacas e as dezenas de cenas de lutas, o que torna sua ação quase tediosa. As melhores cenas do filme são aquelas em que Bee e seus amigos adolescentes convivem entre si, sem a já característica sequência de bolas de fogo que, aqui, chega mais fraca do que nunca.

Entre os diversos elementos para justificar a relação do Autobot Bumblebee com as abelhas (Bee é abelha em inglês e Bumblebee é um gênero de abelhas grandes) - tais como o visor do robô que é estruturado em uma grade de hexágonos e o favo pingando mel junto ao vão da roda do Fusca -, o filme acaba se tornando mais ridículo do que nostálgico em sua apelação para a cafonice desenfreada que subjuga a inteligência de boa parte do seu público. Não é de todo ruim, claro, pois muitas coisas aqui são legais de se ver; mas é um filme que termina tão indiferente quanto começou justamente por sua ambição em querer ser mais do que a sessão-pipoca de sempre.


Vale Ver !


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