PiTacO do PapO - 'Culpa' | 2018
NOTA 9.0
Por Rafael Yonamine @cinemacrica
A arte de fazer muito com pouco é levada ao limite em "Culpa". É admirável como alguns diretores conseguem extrair conteúdo a partir de poucos insumos. Esse talento independe de temáticas ou estilo cinematográfico: na comédia exemplifico com "A Festa", no drama o clássico "Gosto de Cereja" e, agora, "Culpa" conquista seu lugar nos suspenses. Numa produção enxuta em elenco e ambientação, a jovem Iben é sequestrada pelo parceiro e levada para um lugar desconhecido. O agravante é o abandono dos filhos pequenos em casa e o fato de o parceiro já ter passagem pela polÃcia. Poderia soar como um enredo convencional. Mas, considere inicialmente que tudo isso se passa sob a óptica de um atendente de call center de serviços de emergências policiais. Tudo o que vemos no filme, é literalmente a luta de Asger, o policial, em resolver o caso pelo telefone após estabelecer contato com a vÃtima.
O diretor Gustav Möller tem uma capacidade Ãmpar de imprimir dinamicidade a uma proposta parcimoniosa. A harmonização de extremo bom gosto quebra qualquer nota de monotonia. As interações propostas nos induzem a criar representações mentais de tudo aquilo que não vemos, mas conseguimos imaginar. Mesmo tendo visto o filme em Setembro/18, tenho vivo o retrato da casa de Iben, mesmo sem nunca tê-la visto.
O roteiro é incrÃvel. Consegue propor e executar arcos com uma qualidade desproporcional a escassez de insumos. A trama em si, não é apenas elegantemente dinâmica, mas faz jus a um bom suspense e distancia-se com propriedade do óbvio. A construção do personagem de Asger é primorosa: evolui com o desenrolar do caso com uma sucessão precisa de incorporação de elementos dramáticos baseados na empatia. O resultado não poderia ser outro que não a elaboração persuasiva do perfil humano de um profissional cujo o estereótipo dissocia-se do sentimentalismo.
Um filme absolutamente necessário para quem gosta de cinema. Esteja preparado e suscetÃvel ao convite de Möller à imaginação minimalista que o arrependimento será inconcebÃvel.
Super Vale Ver !
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