PiTacO do PapO - 'Como Treinar seu Dragão 3' | 2019
NOTA 10
O evento de uma geração
Por Vinícius Martins @cinemarcante
Quase uma década depois de seu lançamento, o primeiro 'Como Treinar o Seu Dragão’ continua sendo uma das melhores animações de todos os tempos. O original de 2010 ganhou uma sequência em 2014 e, hoje, uma conclusão. A trilogia poderia muito bem funcionar como três atos de uma única história (seguindo os princípios de roteiro citados por Syd Field) como foi feito na trilogia 'O Hobbit’, mas escolheu-se um caminho diferente. Temos aqui três histórias que se complementam, ligadas entre si pelo que veio antes; mas cada uma com começo, meio e fim. Simplificando, as sequências são tramas episódicas que cabem perfeitamente dentro da obra maior que é a saga completa.
'Como Treinar o Seu Dragão 3’ é, de longe, o filme mais rico de todo o estúdio DreamWorks no quesito qualidade técnica. A finalização dos efeitos da animação é um primor que, ouso dizer, prova-se melhor do que o último lançamento da Pixar, 'Os Incríveis 2’, de 2018. O balançar dos cabelos em brisas e ventanias, os detalhes nas roupas e feições, traços de expressão sutis, pálpebras sensíveis em defesa ao vento e luminosidade, tudo isso está em um patamar superior se posto em paralelo aos outros tantos filmes já feitos. O excelente uso das cores cria um contraste visual exuberante entre os ambientes e dita a aura de cada cena, encaixando o filme como peças de um quebra-cabeça que são absolutamente lindas tanto individualmente quanto em conjunto no resultado final. Uma cena, inclusive, remete ao estrondoso sucesso 'Avatar', de James Cameron. Mas o glamour certamente vai para a engenhosidade do roteiro.
Não há nada propriamente novo na trama, mas o uso assertivo dos elementos dentro da narrativa é uma coisa rara de se ver. A franquia é, obviamente, uma fantasia completa em gênero, número e grau; mas o novo filme de Dean DeBlois foge da obviedade e mistura a história mundial ao filme, justificando o fato de não termos dragões dominando os céus hoje em em dia e criando uma origem poética brilhante para o mito dos répteis voadores. É uma obra conclusiva, sim, mas pode ser facilmente abraçada como um conto de origem para o mundo moderno. Lendas antigas aqui são mais do que meras palavras para encantar crianças - são fatos.
No entanto, o que emociona é o fechamento da jornada. Uma geração inteira cresceu com Soluço, e acompanhou nesta trilogia três períodos e fases de sua vida. A caminhada que ele teve rumo ao amadurecimento, lidando com perdas e danos colaterais, fez com que o jovem viking aprendesse com os próprios erros e crescesse - e levou o público a crescer com ele. Essa vertente singular em animações, que expõe os dilemas e fraturas da alma masculina em três momentos diferentes, torna a saga 'Como Treinar o Seu Dragão’ a melhor trilogia animada da história do cinema (desculpem-me os fãs de 'Toy Story’, mas o primeiro filme, onde Banguela e Soluço se tornam amigos, é infinitamente melhor e mais agradável do que 'Toy Story 3’.
Esse tato para o íntimo, com tanta sensibilidade para tornar o relacionamento improvável entre um garoto e um dragão algo tão pessoal, faz dessa trilogia um marco cinematográfico a ser superado - e que dificilmente será. A despedida do público de Soluço e Banguela é dolorosa e reconfortante como se fôssemos todos velhos amigos; como a mão que um dia se aproximou e que agora se afasta para aceitar que tudo, mais cedo ou mais tarde, infelizmente uma hora acaba.
Super Vale Ver !
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