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PiTacO do PapO - 'Green Book - O Guia' | 2019

NOTA 8.0

Por Rafael Yonamine @cinemacrica


Mais uma triste história real levada para o cinema. Mais uma válida lembrança do quão antigo e ainda presente é o racismo. Em “Green Book - O Guia”, entretanto, há uma proposta de inversão da perspectiva usual da relação tóxica entre negros e brancos. Se nas recentes obras que abordam o tema o negro circunda o invólucro elitista, aqui os dotes e recursos estão legitimamente incorporados em Don Shirley (Mahershala Ali): negro, rico e renomado músico. A concretização dessa inversão, que já seria efetiva ao apenas conferir status a Shirley, é explicitada num grau maior quando Tony Lip (Viggo Mortensen), branco, aceita a proposta de ser o motorista do músico durante uma longa turnê pelos Estados Unidos. As contraposições também se expandem na divergência de perfis: o refinado frente ao rudimentar.


O longa se estrutura em dois principais paralelos: o aprofundamento da relação entre os antagônicos patrão e funcionário e a exposição do absurdo racismo sulista norte-americano da década de 60. O roteiro é preciso em evoluir a relação dos dois principais personagens numa cadência crível e harmoniosa com o paralelo de denúncia social. A abordagem da vertente racista também é construída com fluidez: os elementos são pontuados de forma gradual, tornando a obra imersiva e chegando à exposição de situações inconcebíveis. Com sensibilidade, o diretor Peter Farrelly deixa claro que, mesmo dotado de posses e virtudes valorizadas pela elite branca, o negro é visto como alguém inferior.

Por optar pela exposição dos traços pronunciados dos estereótipos, os personagens populam o corpo dramático e cômico com suas transparentes características de forma demasiadamente fácil. Os hábitos grosseiros de Tony Lip, por exemplo, são um dos principais recursos para tornar o enredo risível. Dependendo da sua tolerância a traços fortes de estereótipos, pode beirar o caricato.

É um filme doce que evolui de forma agradável e imersiva. É provocante por expor uma perspectiva de que o racismo também não se flexibiliza ao status social. Para tornar a obra mais massiva e palatável, a irreverência também está bastante presente. Vem como forte concorrente para o Oscar de Melhor Filme.


Vale Ver !


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