PiTacO do PapO - 'Meu Querido Filho' | 2019
NOTA 7.0
Por Rafael Yonamine @cinemacrica
O paralelo com uma famÃlia de classe média brasileira seria perfeito: pais com orçamento restrito, preocupação com a saÃda do filho do colegial para a faculdade, pressão do vestibular. Esses dilemas comuns também são retratados como pano de fundo numa famÃlia tunisiana. Nesse contexto, o único filho da famÃlia aparentemente somatiza na forma de enxaqueca a pressão do ingresso na vida acadêmica. Um dos sintomas, o vômito, serve de abertura do filme. O transtorno do filho, que parecia ser conhecido e delineado, ganha novos contornos com o seu sumiço repentino.
No primeiro momento do filme, enquanto o trio pai, mãe e filho, conviviam, acompanhamos com mais minúcia o exercÃcio do amor dos pais. Tomando como perspectiva o olhar do pai Riadh, a construção da figura paterna é de uma sensibilidade poderosa em alguns momentos familiares. Ao deixar o filho numa casa noturna, simula que retorna para casa, mas rapidamente estaciona o carro próximo ao lugar e o espera até a hora de levá-lo em segurança. É um amor verdadeiro, mas que ao mesmo tempo comprime. É difÃcil dissociar parte da pressão do sucesso no vestibular vinda da expectativa dos pais.
Essa construção tem uma ruptura abrupta com o desaparecimento do filho. Algo atÃpico, já que o jovem Sami encontrava no lar amparo material e afetivo. Segundo o pai, o filho deixa um singelo recado dizendo que viajaria para a SÃria. Sem maiores referências, o pai faz o mesmo e parte à procura de Sami. A cadência mais espaçada do inÃcio tem sensÃveis encurtamentos nessa nova fase da obra. A construção do arco paterno amoroso cede espaço à ansiedade em revelar o paradeiro do filho.
Por motivos óbvios, não comentarei o desfecho da busca. Mas a partir dela, vemos uma crÃtica polÃtica e um engajamento do diretor Mohamed Dhrif em abordar questões além das familiares. A verdade é que as motivações do filho tinham raÃzes mais profundas e foram o suficiente para desintegrar a coesão familiar. Nesse caso, nem o irrepreensÃvel amor paterno foi o bastante.
Vale Ver !
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