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PiTacO do PapO - 'Alita: Anjo de Combate' | 2019

NOTA 7.5

O futuro reinventado. De novo.

Por Vinícius Martins @cinemarcante


Montar um quebra-cabeça é algo complexo e, para muitos, extremamente complicado. Se a pessoa sabe o que está fazendo, o mosaico resultará em uma imagem nítida e compreensível aos olhos, mas se alguma peça não se encaixar… o sucesso do resultado final depende da compreensão de quem o monta sobre aquilo que está sendo montado. O mesmo se vale quando o assunto é fazer um filme: a obra é um conjunto de partes que se comunicam entre si para gerar uma reação no espectador, e se o público responde bem então pode-se dizer que o filme é um sucesso.


Há uma briga de bar em 'Alita- Anjo de Combate’ que, sozinha, já faz valer cada centavo do ingresso. Essa cena talvez seja a que melhor resuma a nova aposta do estúdio 20’ Century Fox (ou 26’ Century Fox, em uma vinheta de abertura amplamente adequada) para uma franquia de ação futurista. As coreografias das batalhas geram momentos épicos que funcionam tanto de maneira individual quanto em coletivo, montando um quadro que reflete excitação e empatia ao mesmo tempo. É visível a mão de James Cameron na produção, especialmente na finalização do 3D, que tem uma ótima distribuição espacial focando especialmente em definir as profundidades (como em ‘Avatar’ e na conversão de 'Titanic’, em 2012). Cameron, que também é um dos roteiristas do projeto, coloca muito de sua identidade narrativa. O filme brinca com a percepção do público ao limitá-lo a saber o que Alita sabe sobre si mesma e sobre o mundo a sua volta - um traço marcante do anime que aqui é representado com fidelidade -, transportando suas dúvidas para os espectadores e construindo uma narrativa sólida dentro desse novo universo de absurdos. No entanto, o filme continua sendo de Robert Rodriguez, e é dele o destaque maior.

A violência gráfica toma o espaço ocupado outrora pela violência trash e exagerada que se viu em 'Machete’ e 'Sin City’, e o colosso de bizarrices futuristas se faz criar em uma mitologia com capacidade para se expandir imensamente. Há um quê de Blade Runner nas vielas sujas criadas por Yukito Kishiro, que tem um conjunto de características que se assemelham bastante com 'O Exterminador do Futuro’ 'Robocop’. Porém, o que chama a atenção mesmo (positiva e negativamente) é a excelência das cenas de luta em contraste com os efeitos visuais. A composição dos cenários e efeitos de maquinário dos personagens é crível, mas falta na personagem principal um acabamento realista - não que ela deva ser realista ao pé da letra, com aqueles olhos enormes e uma estética plástica/robótica totalmente inorgânica. O que questiono aqui é a interação dela com o ambiente ao seu redor. Em uma cena onde ela anda de moto com Hugo, seu interesse amoroso, vê-se a diferença no balançar natural dos cabelos dele em um conflito visual com os cabelos de Alita, que parecem ter vida própria (como os de Pocahontas ou de Parzival, de 'Jogador N°1') e desobedecem a cadência normal de um mero balançar de cabelos.

Sendo um quebra-cabeça complexo e difícil, 'Alita - Anjo de Combate’ acerta mais do que erra ao se arriscar e, consequentemente, criar uma identidade própria. A trilha de Tom Holkenborg (Junkie XL) é uma obra de arte e coloca o compositor e DJ no páreo para ocupar a vaga deixada por James Horner após sua morte, para a composição dos próximos filmes da franquia 'Avatar’. O resultado final desse primeiro capítulo de 'Alita' é satisfatório, mas deixa a impressão de que ainda faltam algumas peças. Talvez, muito provavelmente, essa sensação seja proposital para aguçar o público para uma possível vindoura sequência, onde as pontas soltas vão se encontrar e o quebra-cabeça vai finalmente se completar. Vamos aguardar.

PS: o elenco é excelente, e guarda suas surpresas. Veja Alita nos cinemas hoje!

Vale Ver !



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