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PiTacO do PapO - 'Boy Erased- Uma Verdade Anulada' | 2018

NOTA 8.5

Sobre reorientação sexual e fanatismo 

Por Rogério Machado 

Alguns temas me são mais caros e íntimos que outros, sendo assim, fica difícil as vezes não transformar uma resenha crítica numa espécie de diário, mas vou tentar me ater ao filme em si sem enveredar muito para a militância, já que também venho de lar evangélico, e após ser banido de uma instituição religiosa há alguns anos atrás, não haveria como não me identificar profundamente com 'Boy Erased: Uma Verdade Anulada', que teve seu lançamento nacional cancelado e envolto em várias polêmicas com relação ao atual governo. Pessoalmente, acho que existe muita especulação e a não exibição no Brasil se deve ao fato do longa ter ido muito bem de crítica, mas não ter convertido os elogios tecidos à obra para boas bilheterias americanas. 


Baseado na história real de Garrard Conley e seu livro 'Boy Erased: A Memoir' (2016), o longa acompanha a vida do jovem Jared, de apenas 19 anos, que mora em uma pequena cidade conservadora do Arkansas. Ele é gay - embora reprima seus sentimentos -  e filho de Marshall Eamons (Russel Crowe) um pastor da Igreja Batista. Em um certo momento de sua vida, Jared é confrontado pela família e precisa escolher entre arriscar perdê-la ou entrar em um programa de terapia que busca tentar "curar" sua homossexualidade.

Esse programa é o 'Amor em Ação', que ainda atua nos E.U.A, onde milhares de famílias inconformadas com a sexualidade de seus filhos, os enviam para esse local onde são confrontados e expostos o tempo inteiro para os demais que ali estão para seguirem uma cartilha baseada num mix de fanatismo religioso e falso moralismo - pelo menos essa é a abordagem do longa dirigido pelo ator e diretor Joel Edgerton - dele também é o roteiro e o papel do dirigente do acampamento para o 'realinhamento de conduta'. Edgerton encontrou um bom caminho para contar sua história: em dado momento sentimos que além do tom documental , ele aposta na ironia, uma verve de certa forma até caricata, encarnada em sua composição do personagem vivido por ele, Victor Sykes, que estava a frente do programa empregando exercícios bem estranhos , e que de cristão, não tinham nada. Ilustro minha fala com uma cena em que um dos internos em uma cerimônia fechada, na presença de parentes, apanha com uma bíblia, enquanto palavras duras são esbravejadas por um pastor.

O filme imprime verdade e chama atenção para os erros cometidos nesse tipo de 'tratamento', entretanto, peca em demonizar o outro lado da moeda e quem pensa diferente: aceitação é um campo mais complicado de pisar , mas respeito sempre será factível - nesse 'meio termo', a produção fica devendo. 

No campo das performances, sem retoques: de um lado Nicole Kidman, a mãe, que acata a decisão da maioria, mas que demonstra todo sofrimento e insegurança daquele momento tão delicado, e do outro , o pai , Russel Crowe, sempre austero e alheio aos sentimentos do filho, esse interpretado com muita sensibilidade por Hedges, que absorve toda a responsabilidade de um papel assim - o resultado é visto sem esforço nas linhas mais densas do roteiro. 

'Boy Erased : Uma Verdade Anulada' é um filme necessário em tempos de intolerância. Tem suas falhas , mas é didático, é verdadeiro, dá o recado sem fazer concessões ou rodeios. Ninguém precisa se apagar , se anular por ser quem é... afinal, alguém escolheria viver o terror do preconceito?


Vale Ver !





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