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Argumento: Capitã Marvel e o Ódio

Por Vinícius Martins @cinemarcante 


Após o lançamento do vigésimo primeiro filme do MCU, uma enxurrada de comentários ofensivos e até difamatórios surgiram na internet, criticando negativamente a produção e até rotulando-a como a pior já feita pela Marvel em seu universo compartilhado. Não há obrigação por parte de ninguém, obviamente, de se gostar do filme ou das demais obras que a Marvel coloca nos cinemas. Nem tudo que é produzido pela Marvel é bom para todos os gostos. No entanto, muitos se apropriaram da tendência a negativar o filme e “seguiram a onda” dos haters, colocando o filme como um completo lixo cinematográfico - sendo que vários desses propagadores do discurso contra o filme nem sequer chegaram a assisti-lo para terem propriedade na hora de apontar defeitos. Minha opinião está disponível desde o dia do lançamento do filme nos cinemas e, diante de tanto ódio sendo destilado contra o longa, senti agora a necessidade de promover um debate sobre a qualidade do primeiro filme solo da Capitã Marvel e justificar meu gosto por ele.


Antes de qualquer coisa, o público tem que saber diferenciar um filme do outro. Às vezes, por exemplo, damos uma nota maior para um filme X que pode não ser tão bom quanto o Y em aspectos gerais, porque os públicos são diferentes. O método para julgar um filme para crianças de cinco anos deve ser diferente do usado para suspenses policiais, e não o crítico profissional ou amador não deve se limitar a somente vomitar palavras que condizem com o próprio gosto só por não ser o público alvo da produção. O filme X pode não ser tão bom quanto o Y, mas que dentro do seu gênero se propõe em novidade e inovação ou somente tem uma apresentação melhor da própria proposta. No caso de 'Capitã Marvel’ é justo afirmar que ele não inova em nada, pelo contrário; recicla a fórmula e os modismos para se estabelecer  e faz isso sem um pingo de vergonha. Porém, é inegável que o filme entregue exatamente aquilo que prometeu. Muitos reclamam do twist, dizendo que ele anula a chance de se levar o arco das Invasões Secretas para as telonas, e preferem vislumbrar o filme somente como parte de uma campanha muito maior enquanto se esquecem de apreciar o filme como unidade. Não é um filme perfeito, é claro, e está longe disso, mas me deu a esperada sensação de satisfação ao término da sessão por ser exatamente aquilo que me foi vendido enquanto produto de mercado.

Existem maneiras de criticar e calcular o valor dos filmes do universo cinematográfico Marvel que são diferentes do restante do cinema convencional. A primeira maneira é a ideia de cada filme como unidade, com sua estrutura cinematográfica e a concepção de si mesmo como obra, que não é tão diferente de todos os outros filmes; a maneira dois dita se o filme funciona tanto sozinho quanto em conjunto com os demais, já que cada produção é como uma fatia de pizza; e o terceiro modo é a cronologia de cada personagem que deve ser levada em consideração, pois nesse vasto universo temos filmes de origem, filmes sequência e filmes evento. Filmes de origem ou apresentação, como é o caso de ‘Capitã Marvel’, são muito diferentes dos filmes evento que são os dos Vingadores. Querer comparar um com o outro, seja em sua estrutura ou em sua qualidade, é uma tremenda covardia. A intenção é absolutamente diferente, e o público parece não entender isso.


Seguindo a coerência do parágrafo acima, podemos observar que 'Capitã Marvel’ tem uma estrutura cinematográfica redonda, com a tradicional divisão de atos de começo, meio e fim. Vemos também que o filme funciona tanto dentro de seu universo, se encaixando com os demais em várias referências, como também sozinho, com sua estrutura de atos conforme citado acima. E nota-se que, dentro do MCU, ele é um filme de origem e introdução de personagem, passando por um processo de iniciação da mesma forma que Capitão América, Thor e o Homem de Ferro tiveram que passar em seus filmes solos antes de se tornarem populares na assembleia que foi 'Os Vingadores’, em 2012. Usando esses critérios para julgá-lo em conjunto com as observações da própria obra, chegamos a pergunta: por que tanta gente fala que o filme não é bom?

As pessoas querem sempre que o próximo filme seja o melhor do universo a que pertence, e não aceitam quando o resultado vai contra as suas expectativas. Parece que o público queria encontrar uma protagonista já feita, madura, tão pomposa quanto aqueles personagens que para nós são familiares por já acompanharmos há aproximadamente dez anos. Não é cabível esperar desse filme e dessa personagem, cuja história só começa a ser contada agora, o glamour que tem a presença de um Tony Stark. Brie Larson está ótima no papel, e é incoerente a crítica de que ela não tem carisma ou expressão. Ela dá vida a uma personagem sem memória, que não conhece a si mesma, que está constantemente na defensiva, sempre pouco à vontade, lutando uma guerra que conhece superficialmente, e tendo que acreditar cegamente em indivíduos que se dizem seus aliados. E ainda assim ela mantém um senso de humor sarcástico e leve enquanto permanece sisuda e desconfiada. Em uma comparação com 'Lanterna Verde’, de 2011, que muitos dizem ser o mesmo filme que esse devido às semelhanças (protagonista piloto que tem contato com alienígenas, adquire superpoderes que permitem que atire raios com as mãos e voe pelo espaço), devemos perceber uma diferença gigante na pontuação do humor. Enquanto no filme protagonizado por Ryan Reynolds o roteiro tenta encaixar piadas onde não cabem e tudo soa forçado e desequilibrado, aqui não se vê gracinhas gratuitas ou despropositadas. A personagem tem um cinismo nato, e Larson soube colocar isso na tela com todas as resistências que a jornada de sua personagem tem.


Honestamente, não entendo o ódio contra esse filme. Acredito que ele seja mal compreendido por ter alguns problemas pontuais, mas não é esse fiasco total como estão pregando por aí. Ele me provocou uma sensação gostosa e calorosa ao seu término, e o seu desenvolvimento mastigado é de fácil digestão. As pessoas deveriam parar de ir com a maré só para ter a opinião do momento e cultivar a própria opinião. Vi pessoas conhecidas vibrando com o filme e, em seguida, detonando ele na rede. Não há vergonha em gostar de um filme, seja ele bom, mediano ou ruim. Filme bom pra mim é aquele que me tira da minha realidade e me vende uma ideia através do convencimento, e a Capitã Marvel de Brie Larson me ganhou por isso. Sejamos menos haters e mais conscientes dos nossos próprios gostos, e se não gostarmos de algo então que tenhamos argumentos para crucificar aquilo ao invés de só ficar balbuciando “o filme é ruim”.

Concorda? Discorda? Gostou do filme ou achou fraco? Comente aí sua opinião!



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