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PiTacO do PapO - 'Dumbo' | 2019

NOTA 8.0

Todo mundo tem macacos na gaveta

Por Vinícius Martins @cinemarcante 


O cinema é  mágico em sua capacidade de provocar reações no público. Já vibramos na torcida para que Forrest Gump corresse e para que os peixes continuassem a nadar com a Dory quando foram presos por uma rede de pesca, e esse tipo de torcida é fascinante quando bem recompensada. A premiação da expectativa é algo bem vivo também em 'Dumbo’, que traz de volta aos cinemas os encantos do filme que já cativou gerações - mas com algumas boas diferenças, é claro.


O espírito da animação está ali, presente de forma discreta e bem mais realista do que se esperava pelos amantes do filme clássico. Da animação estão os mapas mostrando por onde o trem passa, a locomotiva barulhenta, a pintura na face do elefantinho, e por aí vai; algumas presenças não com a mesma importância dada no filme anterior, mas devidamente encaixadas para dar a impressão de que a animação foi uma interpretação vista sob a esfera de uma criança, e que este é contado com olhos mais adultos , já calejados pelas durezas da vida. Desta vez bebês não são entregues por garças, animais não falam nem cantam, humanos são mais do que só caricaturas ou sombras, e a empatia infantil toma o lugar do incentivo otimista e tagarela do rato Timóteo. Apesar disso, a magia continua de um jeito ou de outro, e vai além de tornar plausível a impossibilidade de um elefante voar; o devaneio de Dumbo e seu amigo rato é explorado aqui da forma mais literalmente espetacular possível, e tudo isso se deve a melancolia de seu genial diretor, que traz uma visão mais adulta e realista para o fantástico que é 'Dumbo’.

A condução de Tim Burton trouxe uma delicadeza sombria e sóbria para o filme. O famoso desenho em longa metragem tem, nessa nova versão (ou “nessa adaptação”, que pode ser um termo mais adequado), seu final antecipado. A uma hora de duração do filme de 1941 se refaz aqui em 45 minutos, o que faz a uma hora que ainda resta (a duração desse novo filme é 112 minutos) se tornar imprevisível e surpreendente - e Burton entrega o deslumbramento que promete. A vilania corporativa e suas cartas na manga (ou macacos em gavetas) são o impasse que apura ainda mais o desenvolvimento do pequeno elefante em sua jornada de superação, com uma dose adorável de uma fofura tão bem criada que parece de fato palpável.

Com uma beleza visual intensa e um 3D muito decente, a emocionante história do paquiderme voador é um completo deleite aos olhos e provê um pouco mais de amor caloroso e compaixão humana aos pequenos, que crescem hoje em um mundo tão injusto e sem graça.


Vale Ver !


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