PiTacO do PapO - 'Família Submersa' | 2019
NOTA 8.0
Por Rafael Yonamine @cinemacrica
Alché tem grandes méritos em centrar esforços de forma competente na construção de uma atmosfera densa. São diversas escolhas e recursos estilísticos que, quando combinados, envolvem a personagem principal e com sucesso transparecem a aflição da perda.
Por Rafael Yonamine @cinemacrica
A diretora Maria Alché assume o desafio de se aprofundar no luto familiar. A tarefa não óbvia ocorre pelo fato de não estarmos diante de uma jornada com planos de fácil encaixe cronológico ou paralelismos narrativos. É uma imersão psicológica persistente centrada numa personagem. Marcela, interpretada por Mercedes Morán, amarga o falecimento da irmã. Por desempenhar um papel central na resolução de conflitos e burocracias da família, a protagonista tem a dor potencializada por frequentemente estar em contato com elementos, sejam da irmã ou dos falecidos pais, que remetem a lembranças indigestas.
Alché tem grandes méritos em centrar esforços de forma competente na construção de uma atmosfera densa. São diversas escolhas e recursos estilísticos que, quando combinados, envolvem a personagem principal e com sucesso transparecem a aflição da perda.
Logo se nota que a fotografia funcional é econômica com as luzes de preenchimento, há uma penumbra permanente que limita um simples esboço de sorriso. Os enquadramentos próximos que percorrem cômodos apertados num lar modesto contribuem para a configuração do confinamento da tristeza. Essa infelicidade precisa coexistir com a sufocante rotina diária. No papel de mãe e esposa, Marcela precisa lidar com o banal e a mais complexa relação com filhos na fase da adolescência. São precisas e criativas as construções dos momentos em família onde se nota a alma apagada de alguém que, abalada, também quer se fazer presente. Destaco o pranto materno num simples auxílio da tarefa de geografia do filho ou momentos noturnos embalados por música, dança, mas imersos em apatia.
A exploração do luto e suas consequências também alterna entre o real e o devaneio. A obra é repleta de simbolismos sutis que formam uma unidade poderosa. Existem momentos em que Marcela reconstrói mentalmente o convívio com entes familiares na sua casa. Essas situações são precedidas do contato da protagonista com plantas; há um aparente exercício de que a interação com a vida logo é suplantada pela tragédia.
É uma bela obra com clara proposta unifocal bem construída. Entretanto, devo reforçar que é um filme de ritmo lento e que recorre a experiências imaginárias. Se esse elementos não desagradarem, é uma ótima opção.
Vale Ver !
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