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PiTacO do PapO - 'O Tradutor' | 2019

NOTA 9.0

Por Rafael Yonamine @cinemacrica 

Rodrigo Santoro volta em grande forma às telas de cinema na pele de Malin. Nessa produção cubano-canadense, Santoro interpreta um professor cubano de literatura russa que tem seu ofício interrompido por uma resolução governamental. Numa parceria entre Fidel Castro e Europa comunista, o governo cubano recebe crianças vítimas do desastre de Chernobyl para o tratamento de câncer. Por dominar o idioma russo, cabem aos professores dessa língua serem intérpretes entre o corpo médico e a família dos pacientes.


“O Tradutor” é um belo exemplo de cinematografia simples e funcional. É prazeroso acompanhar o desenrolar da obra e ver a unidade do cinema preservada em alto nível sem malabarismos. A atuação de Santoro é admirável. Mesmo deixando em segundo plano a necessidade do domínio do espanhol e russo, o que também é passível de admiração, o ator comprova o talento e transmite com sensibilidade a essência do filme: a dor de conviver com uma doença ingrata que flerta com a morte de forma promíscua. Ainda há o agravante de que toda essa carga de hostilidade recai sobre o ombro de crianças. Aliás, outro mérito do filme é não explorar a inocência infantil de forma apelativa. Não há clichês, reforços sonoros e musicais ou enquadramentos abusivos que tentem nos sensibilizar à pressão. Como já adiantado, tudo flui com muita naturalidade. O sofrimento dos pequenos pacientes são parte funcional de uma mecânica artística bem executada e não um remendo de uma obra disforme.

Ainda na linha da leveza coerente, destaco a qualidade das ambientações que oscilam entre vida pessoal e profissional. Malin, que desfruta de um padrão de vida privilegiado, ora tem o cômodo amparo da atmosfera familiar, ora se vê num hospital de aspecto insalubre. Esse último ambiente, em especial, é exemplar em exprimir um bom trabalho de fotografia. Com enquadramentos precisos e um design de produção funcional e minimalista, é viável exercitar a empatia e entender porque o protagonista promoveu um simples cargo público para uma missão de vida.

Por fim, o roteiro igualmente objetivo nos guia de forma convidativa pelas dores e delícias que Malin vivencia. É verdade que se emprega um pragmatismo cronológico numa sucessão de conflitos e resoluções em algum grau mecânico. Mas tudo é feito de forma tão competente que a obra acaba sendo uma experiência imersiva memorável. Vale o seu o tempo.


Super Vale Ver !



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