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PiTacO do PapO - 'Cemitério Maldito' | 2019

NOTA 5.0

Satanás, é você?

Por Vinícius Martins @cinemarcante 


A trama de ‘Cemitério Maldito’ poderia muito bem ser uma trágica história de amor. O que consta a seguir está presente no material promocional do filme (trailers, comerciais, etc), então não é spoiler. Basicamente, uma família se muda para uma casa no meio do nada, de frente para uma estrada e rodeada por uma floresta sinistra onde há um cemitério de animais. A garota ama o gato, o gato morre atropelado, o pai vai até um cemitério sombrio e enterra o bichano, e então o animal ressuscita. O pai ama a menina, a menina morre atropelada por causa do maldito gato revivido, o pai enterra a menina no mesmo cemitério esquisito e a menina volta do mundo dos mortos, como o gato fez. A família, a partir daí, passa uns perrengues na mão da filha morta-viva e todo mundo enlouquece, em uma típica situação onde todo mundo sabe que tá tudo errado, menos os personagens da história. E, entre lutos e traumas infantis, o medo se instala com visões de espectros e ruídos assombrosos.


A produção de Lorenzo di Bonaventura é ágil para criar a atmosfera de “vai dar merda”, e isso torna a jornada do filme até certo ponto satisfatória; porém, isso não basta para promover a tensão que um filme assim pede. No entanto, é a conclusão da obra que tende a provocar frustrações. O filme cumpre com o prometido, claro, mas finais tragicamente antagônicos são uma das características do autor Stephen King, que é a quem deve-se “culpar” caso o desfecho do filme não te pareça bom após a sessão. Esta é uma história de escolhas e consequências, e King se abstém do compromisso de recompensar o público com um final alegórico e feliz, desses onde se aprende uma lição importante para carregar para a vida toda, e escolhe entregar a conclusão que lhe pareça mais coerente e condizente com a narrativa.

King é um autor atípico. Enquanto a maioria dos escritores desenvolvem suas histórias sabendo para onde as querem levar (e conduzindo o miolo da narrativa para esse desfecho predefinido), King deixa que a história apareça diante de si e se permite ser conduzido pela própria obra, tendo apenas uma noção dos elementos macabros que distribuirá em suas palavras. Seu livro 'Cemitério Maldito’ é fruto desse mesmo esquema criativo (que, devo deixar claro, não é generalizado na vasta escrita do autor), e isso se reflete na adaptação aos cinemas - o que provavelmente fará com que alguns desgostem do filme.

Fazer uso desse método torna a produção ruim? Não, apenas diferente do convencional; e o diferente, obviamente, pode causar estranheza. Apesar de o corpo do filme não fazer jus ao clima aterrorizante que King emprega em sua escrita, o filme dá alguns sustinhos. A história termina onde precisa terminar, e a ausência de recompensa deixa um vazio substancial, como se a história tivesse sido abruptamente interrompida. Essa reação, colocada no público propositalmente, é para lembrar justamente dessa incógnita vital: a vida também pode ser abruptamente interrompida, sem avisos ou despedidas agradáveis.


Nem Vale Ver !



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