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PiTacO do PapO - 'Varda por Agnès | 2019

NOTA 10

Por Rogério Machado 


Agnès Varda, até poucos dias atrás, era uma das poucas lendas vivas do cinema mundial. A mulher feminista, doce e apaixonada por gente de verdade foi uma das pioneiras da Nouvelle Vague, que teve como seu mais proeminente representante Jean-Luc Godard. Pra refrescar a memória, ou pra quem não conhece o termo , a chamada Nouvelle Vague foi uma nova estética de cinema criada na França, em 1958, como reação contrária às superproduções hollywoodianas da época, encomendadas pelos grandes estúdios. A contraproposta eram filmes mais pessoais e baratos – o chamado “cinema de autor”. Seus principais representantes eram jovens críticos, reunidos ou inspirados pela revista Cahiers du cinéma (“cadernos de cinema”), criada pelo teórico André Bazin e considerada a bíblia da crítica à sétima arte. Depois de muito resenharem filmes alheios, eles arregaçaram as mangas e fizeram os seus. Em comum, tinham o desejo por autonomia criativa, mas cada um retratou suas próprias questões pessoais e cotidianas.


'Varda por Agnès', que chegou essa semana aos cinemas brasileiros, acompanha a diretora francesa em seus processos de criação e revela sua experiência com o fazer cinematográfico. A cineasta dá um enfoque especial no método de storytelling que ela denomina de "cine-writing", uma espécie de fórmula utilizada por ela na grande maioria de seus documentários ou filmes de ficção.

Entre sucessos e fracassos, como ela bem deixa claro nesse último trabalho, depois de muito se aventurar pelo modo de fazer cinema que a consagrou e a colocou junto com grandes cineastas franceses, por ser apaixonada em observar pessoas comuns e como essas pessoas encaravam a vida e interagiam no meio em que viviam, a diretora  mergulhou fundo na arte de fazer documentários, e é com 'Varda por Agnés, uma espécie de 'filme testamento', é que ela se despede de seu sacerdócio e de sua paixão em registrar com um olhar clínico e orgânico a vida real. 

Apresentando alguns de seus muitos filmes (até porque seria impossível dar enfoque aos mais de 40 trabalhos da diretora, roteirista, fotógrafa e até atriz) em ordem cronológica, Varda narra curiosidades, fala para uma plateia de fãs atentos, e até recria trechos de seus grandes trabalhos onde simula interagir com a cena feita na época. Em um deles , 'Os Renegados' (1985), ela leva a atriz Sandrine Bonnaire, estrela do filme, para uma entrevista no set de filmagem desse que foi um de seus trabalhos mais marcantes. 

Imaginação. Criação. Compartilhar. Essas são as palavras que motivavam a cineasta em seu incansável trabalho. Para ela nenhuma dessas três palavras funcionavam separadas em seu processo. De nada adiantaria imaginar uma história, criá-la em seguida, se não houvesse com quem compartilhar. O cinema só tem graça quando é visto , quando a sala está cheia - o público era a razão de ser para Agnès Varda e se depender de nós, seus trabalhos serão sempre lembrados e celebrados. 


Super Vale Ver !






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