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PiTacO do PapO - 'Dias Vazios' | 2019

NOTA 7.0

Por Rafael Yonamine @cinemacrica


Com o encadeamento de poucos planos percebe-se que a apatia da paleta de cores condiz com o ritmo da pequena Silvânia, cidade do interior do Centro-Oeste. O marasmo do ambiente conflita com a combinação hormonal adolescente. Na ordem cronológica, o primeiro casal retratado, Jean e Fabiana, angustiam a falta de perspectiva local ao mesmo tempo que ventilam possibilidades de desgarramento. O sonho não precisa ser necessariamente rebuscado, uma vida em contato com o mar seria o bastante. Essa, por exemplo, é uma das perspectivas construídas por Fabiana. Dois anos após a exposição do convívio desse casal, que ocorreu durante o ensino médio, somos introduzidos à relação de Daniel e Alanis. Estudantes do mesmo colégio e submissos ao mesmo sentimento de monotonia, o garoto preenche a falta de excitação com a confecção de um livro que investiga a tragédia envolvendo o casal predecessor.


O diretor iniciante Robney Bruno Almeida é hábil em transpor a sensação de estagnação social. Além das cores sem vida, a falta de elementos simples de entretenimento ou questões mais complexas como a falta de  perspectiva de vida se fazem presentes. O elenco entrosado materializa o sentimento de forma eficiente, a atmosfera desengajada é construída com convicção. Outros recursos como a inserção do cigarro durante a narrativa têm efeito agregador. Além de ser utilizado com frequência, evidenciando a falta de repertório lúdico,  o fumo não faz distinção de pessoas. O hábito permeia desde os mais jovens até a freira responsável pelo colégio cristão da cidade. É a tangibilização da falta de escapismo que nivela a angústia coletiva.

Por se tratar da exposição de dois casais com perfis similares, o previsível confronto se faz presente. A proposta de inicialmente apresentar paralelismos independentes seguidos de uma tendência de fusão pode soar interessante. Entretanto, à medida que o roteiro evolui, a tentativa de tornar a relação dos dois casais indissociável é por vezes frágil. As amarrações, além de não serem poderosas, tampouco se valem de bons recursos didáticos. Ainda assim é uma obra interessante, não trará o melhor das experiências reveladoras, mas é capaz de apresentar uma estrutura envolvente.


Vale Ver !


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