PiTacO do PapO - 'Predadores Assassinos' | 2019
NOTA 8.0
Andou na prancha casa, cuidado o tubarão jacaré vai te pegar
Por Vinícius Martins @cinemarcante
Filmes em que pessoas são cercadas ou caçadas por uns bichão do capiroto não são nenhuma novidade. Já teve filme de tubarão, filme de alienígena, filme de crocodilo, filme de leão, e até filme de aranha com essa mesma premissa. Há alguns anos, inclusive, o excelente diretor Jaume-Collet Serra lançou seu filme de tubarão chamado 'Águas Rasas', e nele colocou todos os elementos clichês dos filmes desse subgênero do horror: protagonistas fora de sua zona de conforto e em posições defensivas, mortes sanguinárias, membros decepados, figurantes fazendo burradas, e por aí vai. E 'Predadores Assassinos' não é nem um pouco diferente do filme de Serra em sua essência, uma vez que eles possuem basicamente a mesma ideia; o que muda aqui, conforme notamos, é a concepção e o objetivo final.
O título em inglês ('Crawl', que em tradução livre significa "rastejar") parece se referenciar aos jacarés (sim, são jacarés e não crocodilos; em uma da cenas há uma placa apontando a presença de alligators na área da casa onde o filme se passa), mas pode muito bem estar falando da dupla de protagonistas que se esgueira em um porão durante dois terços do filme, fugindo das criaturas pantanosas. E apesar de não ser exatamente fiel ao original, o título brasileiro 'Predadores Assassinos' acabou sendo bastante adequado devido ao conjunto final da obra. No filme, pai e filha são cercados por dúzias de jacarés e acabam, eventualmente, tendo que matar algum para sobreviver; e o incentivo que a filha (Kaya Scodelario) escuta do pai (Barry Pepper) desde a infância é a afirmação que a jovem nadadora é uma super-predadora, o que acaba casando com o nome da obra nas terras brazucas. Por falar na dinâmica pai-filha, deve-se dizer que esse momento "ternura familiar" onde laços se estreitam não é o forte da produção, mas justifica alguns pontos seguintes da narrativa. A dupla carrega o filme nas costas com vigor e energia para manter a atenção do público presa na tela, mesmo com os escapismos do roteiro que insiste em inserir uns figurantes que só aparecem por ali para morrer, geralmente em situações de extrema burrice e desatenção. Todavia, apesar desse traço, o filme não é burro.
Os momentos de estupidez do filme (no que diz respeito ao pai e a filha, no caso) nada mais fazem do que evidenciar a completa inexperiência dos protagonistas em como lidar com um ataque assim, além de expor o desespero deles diante de cada nova e imprevisível investida dos jacarés. A "burrice" deles não é aqui uma mera ferramenta usada convenientemente para tensão previsível, como nos filmes de terror onde a pessoa sozinha em casa ouve um barulho no andar de cima e vai conferir no escuro se é o vento ou um psicopata com uma faca; a aparente burrice aqui é fruto da exaustão na luta pela sobrevivência, com traços de quem está por um fio de desistir de tudo e se entregar. E é aí que mora o grande triunfo do filme: a capacidade de provocar tensão.
Se 'Águas Rasas' queria provocar tensão pela angústia a fim de passar uma lição de vida simbólica, 'Predadores Assassinos' se empenha em causar pânico através dos sustos físicos para provocar, pura e simplesmente, mais sustos - e é demasiado eficiente e funcional no cumprimento do dever. Mas não se engane, não há inutilidade nos jump-scares, e os sustos não são amenizados com humor, não; a tensão segue em uma crescente notável a cada nova ameaça que surge, e a curta duração (menos de uma hora e meia) parece ter o dobro do tempo devido ao tanto de problemas que aparecem para serem contornados.
E no fim, a sessão pipoca se faz valer por esses sustos bem aplicados e situações que deixam o público com o coração na mão enquanto vê a coisa toda desandar cada vez mais. A combinação furacão + enchente + jacarés gigantes + relação familiar complicada + claustrofobia + gente morrendo de graça + cachorrinho fofo + mortes agonizantes, acabou sendo mais satisfatória do que o esperado. Veja na maior tela possível!
Vale Ver !
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