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PiTacO do PapO - 'Coringa' | 2019 - Crítica 2

NOTA 10

Um estudo sobre insanidade e violência

Por Karina Massud @cinemassud 


Pobre, infeliz e doente, Arthur Fleck é um palhaço que ganha a vida segurando cartazes na rua, ele sonha em ser comediante de stand-up, mas suas apresentações são constrangedoras. Ele serve de escárnio para o público e pros colegas de trabalho, o governo corta sua medicação e psicóloga e ele apanha na rua a toda hora (tá bom ou quer mais desgraça?): em certos momentos sentimos compaixão por Arthur, até que ele se cansa de tantas humilhações e se transforma em Coringa, numa explosão de violência que o faz feliz e poderoso como nunca.


Joaquin Phoenix está genial, ele que já tem um padrão altíssimo de interpretação, atingiu o ápice numa performance nada menos do que sublime. Sua risada involuntária é nervosa, sofrida e o leva às lagrimas – de arrepiar. As nuances de humor de Arthur são perfeitas: da insegurança com voz aguda e andar cambaleante ao poder que a maquiagem e a roupa de Coringa lhe conferem, numa imponência e maldade ímpares. É no personagem e seus devaneios que Arthur se refugia do mundo que tanto o maltrata, nele ele é feliz e é impossível distinguir fantasia de realidade (outro detalhe genial) . O ator perdeu 24 kg pro papel e fez do seu corpo o símbolo do anarquismo do personagem - corpo magérrimo, curvado e muito frágil, ele se contorce e dança  em cenas assustadoras e memoráveis. Um maestro da anarquia diante da orquestra de palhaços por ele inspirada.

Muitas indicações certamente virão e um Oscar será merecidíssimo e inusitado, afinal será o segundo ator a ganhá-lo pelo papel do arqui-inimigo do Batman (antes dele veio Heath Ledger, que ganhou o Oscar póstumo de Melhor Ator Coadjuvante pelo papel em “Batman- O Cavaleiro das Trevas” do diretor Christopher Nolan)

“Coringa” se passa na Gothan City de 1981 (que lembra a NYC de “Taxi Driver”, de Martin Scorsese), imunda e fedida, com lixo e ratos gigantes por toda parte e uma população em frangalhos - desamparada e em crise que vê no palhaço misterioso um reflexo de si mesma. A fotografia é escura e as imagens parecem velhas e surradas, aumentando a sensação de fundo de poço moral. Outro destaque é trilha sonora poderosíssima que cria um suspense crescente de roer as unhas.

"Coringa" é um filme único, fresco e jamais feito antes; não se trata de uma aventura de super-heróis, é uma tragédia visceral sobre um doente mental que teve um empurrãozinho da sociedade pra se tornar um psicopata monstruoso. É apenas a lei do retorno agindo - ele devolve pra sociedade o que dela recebeu: desprezo, agressão e desamparo. Apesar da ultra violência, o longa não faz apologia à violência, pelo contrário, apenas retrata uma sociedade que poderia ser tanto a dos anos 70 como a de hoje.

Todd Phillips é conhecido pela trilogia “Se Beber Não Case” (que já faz 10 anos, pasmem!) e pelo ótimo “Cães de Guerra”, filmes basicamente cômicos, e agora se aventura nesse drama estupendo e nos surpreende trazendo várias reflexões: Somos produtos do meio em que vivemos? Violência sempre gera violência? Um filme perturbador , grandioso e que ficará dias na sua cabeça.

Tente por um sorriso no rosto de for capaz.


Super Vale Ver !



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