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PiTacO do PapO - 'Domingo' | 2019

NOTA 8.0

Por Rogério Machado


É público e notório que a política no Brasil tem sofrido uma tremenda transformação. A polarização que ganhou proporções estratosféricas nas últimas eleições fez da política brasileira um verdadeiro Fla x Flu.  O que não é novidade é que essa luta de egos não faz bem à ninguém , e os diretamente envolvidos no processo - os políticos - não parecem se interessar em saber de que lado estamos. Um coisa é certa:  em geral e em grande parte, do lado do eleitor (que hoje mais se assemelha a uma fã confesso)  é que certamente não é.


Ainda que muito discretamente, a trama apresenta os múltiplos pontos de vista de uma família burguesa do interior gaúcho no dia 1º de janeiro de 2003, quando o Brasil vivia a histórica posse do presidente Luís Inácio Lula da Silva. O  ex metalúrgico e líder do Partido dos Trabalhadores, depois de muitas tentativas, tinha ganhado a chance de comandar a nação e colocar em prática o sonho de um governo para os pobres. 

Haverá uma grande festa de 15 anos e o local escolhido foi uma casa de fazenda em um estado deplorável - ecos de uma vida de classe alta que decaiu com o passar do anos. Aos poucos os familiares começam a chegar e a se reunir na área externa da casa. Percebemos a altivez da matriarca, Laura (vivida pela veterana ÃŒtala Nandi) que hoje mora em Porto Alegre e parece não se preocupar muito com o bem estar de sua família.  Tudo que importa são rótulos e que palavrões não sejam ditos a mesa. Para ela, os empregados serão sempre insolentes, e acha que o caseiro não deveria ser considerado da família só porque trabalhava ali há anos. 

Os reflexos dessa política que rivaliza entre a classe média (hoje sem credibilidade, mas que mantém o queixo erguido) e a classe proletária e menos favorecida, se estabelecem em uma narrativa intimista e convidativa através das lentes de Clara Linhart e Fellipe Barbosa. Antes da festa, ainda durante os preparativos, a tevê transmitindo a posse do então presidente revelam uma sequência que faz uma leitura certeira de como a classe favorecida via e ainda vê aquele momento em que um homem sem ensino superior e do povo assume as rédeas da nação: quando a personagem Laura, em um momento sozinha em frente a tevê, desdenha do discurso do novo empossado.

Sem pretender ser um filme assumidamente político (e ao mesmo tempo sendo), 'Domingo' , que abriu o Festival de Cinema de Brasília no ano passado, é muito mais um retrato de como a sociedade lida com a vertente política de cada um do que  pela maneira de como seu líder rege a nação. O longa é uma caricatura do que estamos nos tornando, e isso, na linha temporal do projeto, se dá num único dia... um domingo qualquer. 

O longa ainda conta com Camila Morgado (sempre ótima, e aqui responsável pelo alívio cômico - muito bem vindo por sinal), Shay Suede e Augusto Madeira. 


Vale Ver !


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