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PiTacO do PapO - 'Greta' | 2019

NOTA 7.0

Por Rafael Yonamine @cinemacrica



O trabalho de destituir qualquer traço de alento da vida de Pedro é exaustivo desde a primeira cena. O enfermeiro de vida pacata trabalha num hospital público, mais um do tipo dos maltratados pelo Estado. O protagonista atenua a solidão com interações excessivas, por vezes sexuais, com os pacientes. É para lá que conduz sua amiga Daniela, uma transexual com saúde debilitada. Nessa mesma noite, recolhe um assassino esfaqueado e o abriga em sua casa.


Admiro os filmes em que a mão do diretor é notável. "Greta" Ã© o caso. Sob o olhar de Armando França, ambientes comuns, por meio de enquadramentos e fotografias diferenciadas, são desconstruídos e exibidos com originalidade. O hospital, por exemplo, é retratado com perspectiva não óbvia. Por vezes as lentes colam em paredes de azulejos ou incluem ruídos como batentes de portas ou omissões propositais. Associado a isso está a sempre presente iluminação melancólica que, de forma coesa, exprime o íntimo do protagonista e o teor da obra.

"Greta" oferece uma construção provocativa. A incômoda melancolia rodeia a vida de um gay idoso. No lugar de ofertas idealizadoras ou moralistas, o que se explora é a ativação do instinto humano em situações de privação de excitação social. Pedro não se preocupa em conquistar, prevalece a busca instintiva por atalhos como clubes gays ou o episódio de abrigamento do assassino paciente do hospital.

No centro da trama, Marco Nanini destaca-se em incorporar com precisão a complexidade dramática de representar a marginalização imposta pela orientação sexual e discrição coletiva. Em contrapartida, seu parceiro não tem a mesma desenvoltura e restringe-se a execuções mecânicas. Apesar do êxito em expressar a falta de excitação, a obra navega circularmente por esses mares sem evoluir. Ainda assim, é uma experiência válida.



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