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PiTacO do PapO - 'A Lavanderia' | 2019

NOTA 8.0

Estrelas lavando dinheiro com ironia

Por Karina Massud @cinemassud


“O que faz o mundo girar? Dinheiro meus caros! Não sejamos hipócritas! É por isso que essa história diz respeito a você também, a você que está nos assistindo.”  Em “A Lavanderia”, o seu segundo filme em colaboração com a Netflix (depois do drama esportivo “High Flying Bird”), o cultuado diretor Steven Soderbergh faz uma crítica dura e ao mesmo tempo debochada à ganância desenfreada dos muito ricos e às leis fiscais americanas, que com suas inúmeras brechas dão margem a montanhas de sonegações e evasões fiscais.


Meryl Streep é uma viúva que conta com o seguro de vida do marido pra viajar e comprar um belo apartamento, mas leva um golpe e não recebe nem metade do que esperava. Ela resolve então investigar a companhia seguradora e sem querer acaba no escritório de advocacia Mossack & Fonseca, o centro do gigantesco escândalo de lavagem de dinheiro conhecido como “Panama Papers”. Em 2016 o Consórcio Internacional de Jornalistas, através de uma fonte confidencial, publicou o maior vazamento de dados sobre corrupção da história: cerca de 11,5 milhões de documentos confidenciais da firma citada com informações detalhadas de 214 mil empresas, de paraísos ficais e identidades dos acionistas e administradores. Bomba de proporções mundiais que afetou muitas vidas, porém sabemos perfeitamente que os ricos jamais ficam pobres, e quem paga, nessas maracutaias, é sempre o lado mais fraco.

Gary Oldman e Antonio Banderas, ambos no auge de suas carreiras, interpretam com maestria Mossack e Fonseca. Eles falam diretamente pra câmera, pro espectador que está sentado tentando entender a fraude e também rindo da caricatura que são: sotaques indecifráveis, roupas espalhafatosas de novos-ricos, com muito brilho e acessórios caríssimos, sempre em cenários propositalmente fakes de paraísos fiscais. Advogados/narradores cínicos, deliciosamente irônicos e maquiavélicos, afinal o que importa é dinheiro no bolso.

O roteiro de Scott Burns (“O Últimato Bourne”, “Terapia de Risco”)  peca em dividir a trama em “Cinco Lições” explicadas em capítulos unidos pelas empresas fantasmas: da America passando pelo Panamá e indo até a China, de uma filha que descobre que seu pai transa com a melhor amiga, até um assassinato por envenenamento. Vida real com problemas palpáveis em contraponto a um mundo irreal de bilionários com estilos de vida exóticos. Sem deixar de citar todos os termos envolvidos no escândalo, empresas offshores, fundos, commodities – tudo explicado através de analogias, como em “A Grande Aposta” (filmaço de 2015 de Adam McKay). Excessos que chegam a confundir e subestimar a inteligência do espectador.

Apesar dessas falhas, o filme é bem dirigido e tem um elenco de peso que entrega performances incríveis. Soderbergh foi ousadíssimo e corajoso em usar os nomes reais dos advogados do escândalo; Mossack e Fonseca, alegando difamação, tentaram impedir judicialmente a Netflix de lançar o filme, mas perderam a ação (do contrário essa resenha crítica nem estaria aqui) e garantiram ainda mais marketing para a produção.


Vale Ver !


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