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PiTacO do PapO - 'Pacarrete' | 2019

NOTA 9.5

Só os loucos sabem...

Por Rogério Machado

Não é de hoje que ressalto em minhas considerações - quando assim acontece numa determinada produção -, sobretudo numa produção nacional, o poder da função social do cinema. E quando uma determinada obra nos leva para uma discussão com poesia e bom humor, o caminho a ser percorrido não só é eficiente como também pode se tornar divertido. 'Pacarrete', ainda sem previsão de estreia nacional, mas já trilhando uma história de sucesso em festivais no Brasil e mundo afora, trata os distúrbios mentais com o mesmo respeito que entretém seu espectador. 


A trama se passa  na pequena cidade de Russas, no interior do Ceará. Seremos apresentados a Pacarrete (Marcélia Cartaxo) , uma professora de dança aposentada, que vive com a irmã Chiquinha (Zezita Matos) e tem Maria (Soia Lira) como empregada da casa. Rigorosa e ranzinza, ela vive limpando a calçada e brigando com quem passa por ela. Seu grande sonho é estrelar um balé para a população local durante uma grande festa que comemorará o aniversário da cidade, que está prestes a acontecer. Para tanto, ela manda confeccionar uma nova roupa de bailarina ao mesmo tempo em que tenta convencer a secretaria de cultura da prefeitura de seu show. Entretanto, a falta de interesse da população em geral por espetáculos do tipo logo se torna um grande oponente para essa excêntrica figura. 

Vencedor de oito prêmios no Festival de Gramado esse ano, incluindo o de Melhor Filme, 'Pacarrete' apresenta a história real de uma figura que viveu na cidade do diretor Allan Deberton. Sim, o longa tem um quê de autobiográfico: existe uma cena, que é muito corriqueira inclusive em cidades do interior, quando crianças tocam a campainha da casa de Pacarrete e saem correndo. Logo após a exibição do longa, Allan, que estava presente na pré estreia, afirmou que já havia tocado a campainha da mulher. O cineasta cresceu em Russas e fez faculdade de cinema na UFF, em Niterói. 

Além de abordar a loucura e como lidar com esse distúrbio de maneria inclusiva, o filme também assume de certa forma uma postura política. Primeiro pelo paralelo que faz com a vida dessa bailarina cujos ideais não se conectavam com o lugar onde ela vivia, e segundo porque seu espetáculo não tinha a menor chance de ser aprovado pela secretaria de cultura. Entra aí um apelo pela cultura, de como ela é ignorada pelo poder público e o quanto temos que gritar para nos fazermos ouvidos (Pacarrete assume essa postura confrontadora no longa), e nem assim somos atendidos.

'Pacarrete' , que toma uma forma única pela força de sua protagonista, fala de sonhos, de empatia, fala de amor. Mas sobretudo nos diz sobre a valorização da arte e da sua recolocação, num lugar seguro, no meio de nossa sociedade doente de sensibilidade pela falta que o 'remédio da arte' faz. 


Super Vale Ver !


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