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PiTacO do PapO - 'Deus é Mulher e Seu Nome É Petúnia' | 2019

NOTA 7.5

Por Rafael Yonamine @cinemacrica 


Um evento religioso aparentemente inocente desencadeia a reflexão de uma gama corajosa de tabus. A tradicional gincana tem início quando o sacerdote local lança uma cruz no riacho e o felizardo fiel que conseguir pegá-la será ricamente abençoado. O fato inusitado é que em meio a euforia a jovem Petrunya, única mulher a participar da atividade, atira-se nas águas e conquista a posse do símbolo religioso. O choque é instantâneo: a vencedora é uma mulher, todos os demais derrotados são homens.


A abertura é explícita em denunciar o machismo. Sem qualquer pudor, os jovens derrotados inflamam-se com o revés e não sentem a menor vergonha em querer recuperar a cruz à força. O ambiente é a Macedônica, país com forte parcela da população cristã ortodoxa que vive a cultura centrada no privilégio do bem-estar masculino calcado em religiosidade. Essa é apenas uma das críticas sociais bem tateadas pela diretora Teona Strugar Mitevska, a extravasão vai além. Petrunya ecoa não apenas o coro feminino, mas o distanciamento do padrão de beleza já que se considera acima do peso e ainda economicamente desprivilegiada por estar desempregada.

O conflito transcorre na justaposição claustrofóbica desses elementos encontrando na delegacia o microambiente para a manifestação de todo o tipo de barbárie preconceituosa travestida de fundamento religioso. O trabalho da direção tem êxito em apresentar um volume considerável de preconceitos sociais, muitos dos quais com amplo compartilhamento global, num enredo bastante simples e enxuto. O resultado do escrutínio intenso dessas concepções retrógradas é a inevitável e eficiente construção de encruzilhadas que desnudam a intransigência e explicitam o quão absurdas são.

Os recursos técnicos para nos levar à conclusão são ligeiramente repetitivos. O impasse do “devolve ou não devolve a cruz” ganha proporções teatrais e poderia ceder espaço, inclusive, para um desfecho mais grandioso do que o apresentado. Ainda assim, é um filme necessário, revoltante e infelizmente atual.


Vale Ver ! 





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