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PiTacO do PapO - 'Esquadrão 6' | 2019

NOTA 7.0

Michael Bay ataca novamente

Por Vinícius Martins @cinemarcante


Um filme leva, em média, aproximadamente vinte minutos para ganhar a atenção e o interesse do público que o assiste. Em um feito surpreendente e inquietante, no entanto, o novo filme da Netflix precisou de menos do que esse tempo para me surtir o efeito contrário. Assumo que parei de assistir e só voltei a ele no dia seguinte, com a mente mais aberta a receber os absurdos que ele estava me mostrando. E para a minha surpresa, gostei do que vi após a introdução do filme. Contudo, vou destacar minha fala aos primeiros minutos, que são uma sequência grotesca de erros para que você, ao assistir, já esteja preparado(a) e espere o pior desse filme; porque aí talvez, assim como eu, você se surpreenda positivamente com o que vem depois desse começo enfadonho.

O longa é um festival de absurdos em seu primeiro ato - e não estou falando de enredo, trama e roteiro, não; estou falando de incoerência visual e erros de continuidade. Em uma cena filmada com um glorioso slow-motion, com o propósito de se tornar icônica, vemos o carro do grupo (que está sendo perseguido por mafiosos e policiais em Florença, na Itália) dar um cavalo de pau e parar rente a um caminhão de lixo que passa no mesmo momento. O caminhão arranha a lateral do carro, no lado do motorista, e arranca o retrovisor esquerdo (que voa para longe no mesmo segundo em que um carro dos bandidões é atingido em cheio pelo caminhão). Seria uma sequência perfeita, se não fosse o descuido da equipe com as pequenas coisas. Já na cena seguinte, onde o carro dá partida para fugir daquele local da cidade, o carro é filmado de frente, em close, e o retrovisor estraçalhado é visto no mesmo lugar que estava antes da batida, intacto e sem nenhum arranhão.


Eu estaria sendo tolo se achasse ruim o excesso de ação em um filme de ação, e 'Esquadrão 6' é uma obra que faz jus ao gênero; todavia, o que critico aqui é a enxurrada de ação mal planejada que salta da tela incansavelmente. A introdução do longa tem até boas ideias e boas intenções, com sua violência sem disfarces e agilidade em apresentar informações, mas seu péssimo acabamento e total desprezo aos detalhes termina por depender da ignorância do público para ser bem aceito. Em uma cena de parkour, por exemplo, ainda no começo do filme, vemos nitidamente o rosto do dublê de Ben Hardy que, embora parecido com o ator, possui um formato de rosto diferente - o que fica explícito em mais uma sequência de câmera lenta e fotografia bem fechada em cima da ação. Além disso, há as colisões de automóveis que não renderiam mais do que alguns amassados, mas pelo exagero típico do diretor Michael Bay ganham aqui um aspecto de apelo ao épico, fazendo parecer que os carros foram atingidos por mísseis de alto poder destrutivo, devido ao tamanho das explosões e a altura que os carros voam longe.

O filme é o trabalho mais Michael Bay da carreira de Michael Bay - como se o estilo peculiar do diretor já fosse um subgênero do cinema mundial. Explosões, exageros e sobras da câmera aparecem com pontualidade para nós lembrar, fatidicamente, que se trata de um filme de Michael Bay. Os cortes rápidos, a ação frenética, o excesso de informações e as pirotécnicas explosões que mais se parecem fogos de artifício também estão presentes. O filme conta a história de um grupo de pessoas com um objetivo em comum: a ambição de tornar o mundo um lugar melhor eliminando pelo menos parte do mal que há nele. E em seu primeiro grande caso, já com a formação de indivíduos com talentos diversos, o grupo decide acabar com o regime tirano de um ditador para entregar a nação ao seu irmão mais novo e adepto à democracia. E, curiosamente, o filme é muito bom! Isto é, ignorando-se os constantes erros de sequência e o começo arrogante e visualmente contraditório. Não se deixe enganar pelo meu olhar severo quanto aos erros de edição e direção apontados sobre a introdução do filme; o que vem depois é um entretenimento válido e até engraçado. 

Todo filme tem um lado bom e um lado ruim (salvo alguns casos raros onde há plena excelência ou total desastre), e 'Esquadrão 6' é um desses filmes com a certeza mais clichê de ambos os lados. Ele é bom em sua essência, mas ruim em parte de sua concepção. É uma ação recheada de comédia ao melhor estilo Ryan Reynolds, com breves momentos à la 'Velozes e Furiosos', quando forçam um pouco o drama de serem uma família. No geral, se há algo excelente nele é o debate político que ele levanta e o sentimento de que pessoas comuns podem, de fato, promover uma mudança significativa no mundo. Ganchos para sequências não faltam no final, e fica a esperança de que os vindouros novos filmes não cometam os mesmos erros deste primeiro.


Vale Ver !


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