PiTacO do PapO - 'Três Verões' | 2019

NOTA 8.5

Por Rogério Machado

Do lado de fora 'Três Verões' parece só mais  uma comédia dramática para mostrar o talento de Regina Casé em absorver personagens populares com grande organicidade. Mas só parece . O novo filme da cineasta Sandra Kogut ('Campo Grande' - 2016)  usa o humor para ironizar e criticar uma prática muito comum entre políticos e demais poderosos: a corrupção.  'Três Verões' compete na premiére Brasil em longa de ficção no Festival do Rio e segue sem previsão de estreia no circuito. 

Na história conheceremos Edgar (Otávio Muller) e Marta (Gisele Fróes). Eles formam um casal muito rico que todo verão, entre o Natal e o Ano Novo, recebe amigos e família para festas em sua mansão à beira-mar. Entretanto, quem de fato organiza  a casa e gerencia os empregados é Madalena (Regina Casé), que sonha em comprar um terreno para que possa abrir seu próprio negócio. Para tanto ela pede ajuda ao patrão, que lhe empresta dinheiro para ser descontado mensalmente de seu salário, sem imaginar de onde vinha a quantia, e o quanto seria envolvida em futuros problemas com as lavagens de dinheiro do patrão. 

É interessante analisar como essa crônica contada com muito bom humor se desenrola e se torna um estudo interessante sobre como se divide a sociedade atual. A casa daquela família  passa a ser um microuniverso que reflete o próprio Brasil : os políticos abusam do poder, queimam dinheiro público e saem de cena sem serem notados. No meio de tudo, o povo, que perambula pelos corredores da casa, mesmo sendo lesados e sem salários, se reinventam, passam a criar oportunidades para empreender e sobreviver. Há uma cena interessante em que Seu Lira (Rogério Fróes) o pai de Edgar, (que nem de longe desconfiava da contravenção do filho), pergunta para a personagem de Regina Casé: 'Como você consegue manter esse sorriso com o mundo desabando na nossa cabeça?'  

O rico segue se dando bem e o pobre segue olhando de longe o que acontece lá fora, e sem participar da festa - há uma cena no desfecho que se passa na noite de reveillón , em Copacabana, que traduz com extrema sensibilidade isso. 'Três Verões' acontece entre os anos de 2016 e 2018 - a passagem de tempo aqui veste bem essa crônica que a medida que avança, se torna mais próxima de nós, pois no fim das contas a nossa experiência (parafraseando o compositor Paulo Vanzolini) em reconhecer a queda e não desanimar é típica coisa de brasileiro. 

Vale Ver !