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Dica Telecine: 'Rafiki' | 2019

NOTA 8.5

Por Rogério Machado

Em linhas gerais,  pra mim, amor sempre foi uma atitude, não um sentimento. Em se tratando de dois iguais, amar também se torna um ato político. 'Rafiki', o primeiro filme queniano a ser selecionado para a Palma de Ouro em Cannes e que passou pelos cinemas num curto período no ano passado, é um duro relato sobre o amor entre duas jovens garotas que precisam descobrir uma forma de ficarem juntas sem que sejam notadas por um sociedade altamente machista. Em meio à isso, temos outros elementos em jogo, como política e religião. 


Na história conheceremos Kena (Samantha Mugatsia) e Ziki (Sheila Munyiva), garotas que nutrem algo além de uma amizade, e embora suas famílias sejam rivais políticas, as duas continuaram juntas ao longo dos anos, apoiando uma a outra na batalha pelas conquistas de seus sonhos. A relação de amizade transforma-se em um romance que passa a afetar a rotina da comunidade conservadora em que vivem. As jovens terão que escolher entre experienciar o amor que partilham, ou se distanciar em função de uma vida segura.

A palavra que dá título ao filme significa “amiga” na língua suaíli, um dos idiomas oficiais do Quênia. De acordo com o material enviado pela produção de Rafiki à imprensa, a palavra é usada por muitos homossexuais como alternativa em situações em que não podem dizer parceiro(a), amante, namorado(a), mulher ou marido. Companheirismo e amizade são as traduções mais conhecidas desse nome, que no longa de Wanuri Kahiu ganha grande representação, uma vez que se contrasta com a falta de empatia com o que é novo e diferente. Muito embora a relação das meninas permaneçam boa parte da trama em segredo, vemos o quão hostis são as ações daqueles que se sentem incomodados com a homossexualidade daqueles ao redor. São diversas as intercorrências que comprovam a homofobia e até o machismo. Mas em contrapartida, a fotografia e o colorido vibrante, desde os figurinos até outros detalhes em segundo plano, criam uma atmosfera de leveza e poesia. 

A ato político a que me referi não diz respeito só ao romance entre Kena e Ziki, o pano de fundo dá conta de uma briga entre os pais das garotas que anseiam pelo poder e  que acaba esbarrando em posicionamentos:  de um lado a aceitação , do outro a intolerância, muito também representada pela religião, abordando levemente a controversa 'cura gay'. A direção opta por retardar o clímax, o que prejudica a fluência da história, mas as lições transmitidas, a representatividade, assim como o paralelo com a realidade do nosso país, acabam por elevar o nipe da produção. 


Vale Ver !


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