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Jumanji - Próxima Fase | 2020

NOTA 9.0

Quem é Jumanji?
É o filho da Bárbara?

Por Vinícius Martins @cinemarcante

Há um quê de saudosismo (no melhor sentido do termo) nos filmes da franquia ‘Jumanji’, desde o clássico estrelado pelo gênio Robin Williams até o reboot de 2017, formado pelo brilhante elenco encabeçado por Dwayne Johnson, Kevin Hart, Karen Gillan e Jack Black. A observância ao passado é uma constante recorrente que movimenta a trama para o futuro, sendo o gatilho que faz girar a história dando substância ao enredo. Foi assim no filme de 1995 e é assim também agora na nova safra da franquia, que ganhou uma popularidade surpreendente nos últimos anos. Se no primeiro filme existia o saudosismo pela criança que cresceu longe dos pais em uma selva recheada de perigos e no segundo o saudosismo veio através do encontro do grupo de adolescentes com um garoto desaparecido há décadas dentro do jogo (uma história antiga da cidade, como uma lenda urbana), neste terceiro capítulo o saudosismo chega em dose dupla, tanto entre os personagens como também na relação do público com as obras antecessoras. No primeiro caso há a necessidade de reconciliação de dois idosos que há muito não se davam bem, e no segundo há a carícia nostálgica de resgatar elementos do longa de 2017 e também fazer, de maneira surpreendente, uma conexão intensa com o filme clássico - dando novos rumos, inclusive, para um vindouro novo capítulo.


Se você já assistiu ‘Jumanji: Bem-vindo à Selva’ então certamente deve conhecer as personalidades dos jogadores e dos avatares que eles usam dentro do Jumanji. O novo filme, no entanto, quebra a muralha da zona de conforto estabelecida no longa de 2017 (onde cada um já estava familiarizado com um avatar específico) e provoca mudanças em cima de mudanças - e isso é excelente e extremamente coerente com a proposta da trama. O filme começa apresentando um Spencer (Alex Wolff) frustrado com o mundo real e com os rumos que a vida tomou, decidindo consertar o videogame anteriormente quebrado pelos amigos e voltar para o jogo onde vivia com todas as pompas do Dr. Smolder Bravestone (interpretado com louvor por Dwayne Johnson), o explorador fortão que protagoniza o jogo. Sem obterem resposta de Spencer, seus amigos vão a sua procura e são puxados para dentro de Jumanji novamente, mas sem querer acabam levando junto o avô de Spencer e o seu amigo de longa data. A presença dos dois idosos, agora em corpos bem mais jovens e habilidosos, rende ótimas tiradas e garantem muito da comédia que o filme tem a oferecer - com mérito para toda a equipe, desde os roteiristas (que criaram personalidades fortes e características de fácil distinção para os personagens) até os atores (que capturaram todos os trejeitos, tiques e tonalidades dos velhos ranzinzas e souberam reproduzir sem deixar cair na pieguice da caricatura), passando pelos produtores e pelo diretor Jake Kasdan, é claro. Em seu ímpeto de resgatar Spencer, os amigos e os anciãos seguem por uma jornada repleta de aventuras, perigos mortais e hilariantes lapsos mentais por parte dos membros da terceira idade. E é exatamente na humanização da equipe, com seus velhos e novos membros, que o filme acerta em cheio.

O maior atrativo dos filmes reimaginados de ‘Jumanji’ é a capacidade de cativar que o elenco principal desenvolve, fluindo em uma constância natural desde a sua primeira interação. Se em ‘Jumanji: Bem-vindo à Selva’ tínhamos um grupo disfuncional de adolescentes sendo obrigados a interagir e aprender a trabalhar em equipe, nesta sequência vemos os jovens assumindo o papel de veteranos enquanto a dupla de idosos (deliciosamente estrelada pelos Dannys Glover e DeVito) precisa se adequar ao ambiente novo do videogame e aprender o funcionamento desse universo se quiserem viver (ou sobreviver, no caso) diante dos diversos desafios que se apresentam fronte ao grupo. Aqui há dúzias de piadas que se reciclam sem perder a graça, várias situações geradas pelo hábito da idade avançada, e diversos impasses e indefinições comuns ao período da juventude. Cada um tem algo a enfrentar em si mesmo, e que só consegue fazê-lo ao encontrar forças no outro. A grosso modo, esse novo filme consegue a proeza de ser ainda maior e melhor que o antecessor, e sem se prender a uma fórmula fixa para obter sucesso.

Em um mundo imperfeito, como o que vivemos cotidianamente, a fuga da realidade tende a ser reconfortante, mesmo que só por alguns momentos. Embora possa parecer um escapismo fácil, “enterrar a cara nos videogames” - como falam algumas pessoas que conheço - pode ser uma maneira feliz de se reencontrar e fazer as pazes consigo mesmo, e o filme explora isso com uma mensagem gratificante de conciliação entre gerações. Desse modo, não podemos negar que ‘Jumanji’ seja o melhor filme baseado em um jogo que não existia antes de chegar aos cinemas. A mente criativa por trás do livro que deu origem a tudo, Chris van Alsburg, escolheu tal título para sua obra porque a palavra Jumanji, em Zulu, tem o significado de “muitos efeitos”. Uma escolha bastante apropriada para adaptações cinematográficas, convenhamos. Do tabuleiro ao videogame retrô, o cinema só tem a ganhar com o entretenimento rico e vasto do universo de ‘Jumanji’ que ainda aguarda para ser explorado. Então reúna a família e vá assistir! 

PS: A cena pós créditos fará qualquer fã do filme clássico surtar. Já aguardo a realização do futuro promissor que a franquia tem. Aguardemos!


Vale Ver !


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