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PiTacO do PapO - 'A Rosa Azul de Novalis' | 2019

NOTA 7.5

Livre de pudores

Por Sérgio Ghesti @meuhype

Corajoso documentário rompe padrões de comportamento e enfrenta a normativa do que é certo e errado.

O docu-drama 'A Rosa Azul da Novalis', dirigido por Gustavo Vinagre ('Lembro Mais dos Corvos', 2018) e pelo montador Rodrigo Carneiro, é aquele tipo de filme que já desde a primeira cena se mostra desprendido de limitações do que pode ou não ser mostrado ou dito, o filme quebra a quarta parede com o protagonista, comandando o olhar dos diretores e do público para um passeio pelo interior de sua mente e de seu corpo em um estudo de seu personagem e sua verdade por completo. 


O filme começa com um close extremo do ânus do protagonista tirando qualquer desconforto que o expectador possa ter do que vem adiante. É só o começo de uma coleção de cenas bem liberais. São recitados versos aleatórios assim como uma coleção de poemas de Hilda Hilst em um retrato íntimo que transcende qualquer pudor ou mesmo julgamentos. A postura explícita e crítica do homem que se expõe à câmera gera empatia, principalmente pela verdade que transparece de seus argumentos: ele medita, lê poesia, se mostra nu por inteiro e é co-autor do filme, criando uma certa dúvida se tudo que acontece é encenado ou espontâneo, embora em alguns momentos fique claro que se trata de uma confissão em formato de imaginação dos fatos ocorridos, como quando ele confessa que na juventude ele e seu irmão falecido tiveram um relacionamento incestuoso. 

O filme é Marcelo Diorio revivendo lembranças familiares em sua cabeça com recordações de vidas passadas e questionando como são tratados os gays e como nossa sociedade cria barreiras ao censurar o natural do sexo. Em uma dessas vidas passadas, ele diz ser Novalis, poeta alemão que perseguia uma rosa azul. Extremamente erudito, ele se inspira e  se consola com seus muitos ídolos culturais - Hilst, Novalis, Georges Bataille, Nina Simone, Maria Callas, Franz Kafka - para lidar com a intolerância que ele suporta como um homem HIV-positivo que cresceu de maneira tortuosa em família homofóbica. 

A produção evita o vitimismo e o documental, assim como apresenta muitas maneiras inventivas de complementar a crônica exuberante e irreverente de Marcelo, incluindo um escandaloso final com a constatação que o choque serve para incomodar preconceitos e realizar algo artístico e visceral. 


Vale Ver !


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