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A voz de Deus em 'Sonic: O Filme ' | 2020

NOTA 8.0

Um calorzinho de Sessão da Tarde

Por Vinícius Martins @cinemarcante 


Sonic é uma figura mundialmente conhecida. A imagem do ouriço azul faz parte do imaginário da cultura geek e há tempos fala-se sobre adaptar seu jogo às telonas. Em 2019, após anos de especulações, foi agendado o lançamento nos cinemas e o primeiro trailer chegou à internet. No entanto, a fisionomia grotesca e visualmente ofensiva (cujas emoções não eram nítidas ou condizentes com as falas e situações mostradas em tela, provocando um estranhamento imediato) fez surgir críticas quanto a qualidade dos efeitos da produção e, por consequência, da fidelidade à memória coletiva dos que tem algum envolvimento emocional com o personagem. A nostalgia, em casos de adaptações de obras cultuadas, sempre impera. Muitos fãs gritaram em CAPS LOCK volumosos sobre o quão insatisfeitos ficaram, e o estúdio não teve outra escolha além de ouvir seu público. Como resultado, a mudança foi feita e o visual do Sonic ficou mais agradável e fiel ao dos jogos no filme que chegou essa semana aos cinemas, com mais de três meses de atraso em relação ao seu lançamento original estimado. No fim das contas, a voz do povo predominou como a voz de Deus.


A produção, com seu acabamento revisto e um leque maior de detalhes acrescidos, tem uma estrutura feijão com arroz típica de filme de origem, e isso se encaixa perfeitamente bem ao posposto aqui. É como assistir a um filme da Sessão da Tarde no início dos anos 2000, quando os grandes clássicos oitentistas ainda passavam sem muito filtro na tevê aberta. O humor aqui é crucial e, muito embora para alguns ele talvez pareça ofensivo e carente de inocência, é o que faz valer a sessão. Jim Carrey interpreta com louvores e de maneira cartunesca ao Jim Carr… quero dizer, ao Robotnik, o vilão barrigudo e excentricamente exótico dos jogos. Embora sua aparência tenha sido alterada, a maneira caricata de Carrey conduzir as cenas que protagoniza mostra uma visão interessante para o personagem. Só a presença saudosa de Carrey (que parece bem à vontade no papel) já vale cada centavo pago no ingresso. O personagem é bobo e tem motivações fúteis? Talvez. Todavia, antes de mais nada, devemos nos lembrar que o filme é destinado, principalmente, ao público infantil. Logo, por dedução, é plausível que seja bobinho e tenha piadas físicas (que são de mais fácil compreensão para o seu público mirim) no lugar de grandes emaranhamentos intelectuais ou mistérios a serem resolvidos. Aos fãs mais velhos, ficam os easter eggs e as referências nostálgicas a situações típicas dos jogos. A fotografia, apesar de não ser genial ou inovadora, agrega valores interessantes ao mercado dos filmes de velocistas (como 'Vingadores: Era de Ultron', 'Liga da Justiça' e 'X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido', onde já foram explorados os aspectos do poder da ultra velocidade de maneiras diferentes e igualmente criativas, tirando o espaço para grandes inovações no conceito).

Podemos dizer que 'Sonic: O Filme' é um meio termo entre o excelente 'Detetive Pikachu', de 2019, e o lamentável 'Pica-Pau: O Filme', de 2017. Há uma qualidade interessante na animação empregada, mas o roteiro se abstém de grandes engrenagens e construções complexas. Prioriza-se o humor semi-ácido do sarcasmo infantil, e a diferença entre esse filme e o do pássaro vermelho é que aqui esse aspecto é funcional, e a comicidade física tem algum charme além de meramente parecer paspalho e atrapalhado. Para quem, assim como eu, cresceu jogando Sonic, Mario, Contra, Road Rash e Castelvania, este filme é uma evidência curiosa de que dá para fazer filmes baseados em games que atendam a todas as faixas etárias, dos novos interessados até os mais velhos fãs do produto. E não se enganem, 'Sonic: O Filme' é um produto comercial deslavado. Ainda assim, recomendo assistir na maior tela e levar as crianças para a diversão em família.

Ps: Tem duas cenas pós-créditos importantíssimas. Vale à pena assistir até o último minuto. 


Vale Ver !


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