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'Jóias Brutas' | 2020

NOTA 9.0

Sobre uma pedra fantástica e muitas apostas

Por Karina Massud @cinemassud 

É justo começar essa resenha crítica dizendo que a antipatia que eu nutria pelo Adam Sandler desde sempre ( boa parte por causa das comédias bobas e sem graça da sua carreira) começou a se dissipar depois de “Jóias Brutas”, nova produção Netflix, onde ele surpreende se mostrando um excelente ator dramático (vão me perguntar: e “Os Meyerowitz”?, eu respondo: também não gostei, filme chato e interpretação de gosto duvidoso).


Sandler é Howard Ratner, o dono de uma joalheria cafona no Diamond District (rua onde se comercializam pedras e jóias) em Nova York, que tem uma personalidade complexa: um viciado em jogo, otimista (como todos são), egocêntrico, mas muito carismático. Sua vida está sempre na corda bamba, os negócios e o casamento vão mal e ele deve uma fortuna aos agiotas. A chance dele pagar as dívidas de jogo aparece com a comercialização de uma opala, pedra preciosa incrível  vinda dos campos de mineração da Etiópia, lugar infernal perto do qual serra pelada seria um paraíso.

Ele tem que enfrentar o vício, seus demônios, os cobradores, o astro do basquete que quer a opala como amuleto da sorte, os familiares e a amante burrinha. Sua vida vira um caos quando os excessos vieram bater à porta (um dia eles fatalmente vêm!). Adam Sandler brilha com essa performance diferente de tudo o que já fez – talvez a melhor de sua carreira – ele carrega o filme apesar do bom elenco de apoio.

A atmosfera é tensa e claustrofóbica, muito devido à trilha sonora techno que embala essa jornada frenética . Com decisões arriscadas, tudo vai dando errado  e Howard vai caindo num abismo (e nós vamos juntos), e parece difícil retornar. Ele  anda incessantemente pelas ruas de Manhatan falando/gritando sem parar ao celular, e a cada três palavras duas são f**k...  focar nessas sequências cansa e até dá tontura.  As metáforas visuais são ótimas e o visual lindo - a câmera passeia do exame do cólon de Howard na cena de abertura ao centro da opala mística ainda na caverna onde foi descoberta; algo como uma viagem psicodélica.

Dirigido pelos irmãos Safdie (de “Bom Comportamento” com Robert Pattinson, um currículo curtinho mas excelente) e produzido por Martin Scorsese, “Jóias Brutas” foi esnobado pela Academia e não recebeu nenhuma indicação ao Oscar, mais uma dessas injustiças que acontecem todos os anos. Não se trata de um filme que irá agradar a todos os gostos pois é sombrio e desesperador, mas para quem gosta desse tipo de abordagem, se torna uma produção imperdível.


Super Vale Ver !


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