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'The Cave' . Os Horrores da Guerra e a Beleza da Resiliência | 2019

NOTA 9.5

Por Karina Massud @cinemassud


Assistindo “The Cave”, documentário da National Geografhic que concorre ao Oscar na categoria, eu me pergunto se Deus realmente existe, e se existe, por que abandonou tanta gente a um sofrimento atroz como o dos moradores de Goutha, região na Síria com 400 mil habitantes (que restaram dos originais 2 milhões) que sobrevivem diariamente à guerra porque não conseguiram fugir do caos. Homens, mulheres e crianças inocentes sendo bombardeados desde 2011 quando estourou a guerra civil no país. O subterrâneo parecia a melhor saída, e é pra lá que foram os sobreviventes, numa complexa rede de caminhos e abrigos no subsolo, e também de um hospital apelidado “The Cave”.

Amani Ballour é uma médica pediatra que administra o hospital subterrâneo, e é sob o seu olhar que conhecemos o quotidiano absurdo de uma cidade (ou o que restou dela) que virou zona de guerra. Ela e sua equipe enfrentam a falta de recursos para socorrer os muitos feridos, não têm anestesia (eles colocam música clássica no celular pra acalmar o operado), material cirúrgico e a comida é escassa. Essa mulher extraordinária também luta contra o machismo de uma sociedade patriarcal repressora onde as mulheres são tidas como inferiores, incompetentes para serem médicas, quiçá dirigirem um hospital.


As imagens são lindamente tristes, poeira pairando sobre escombros cinzentos que antes eram uma cidade como outra qualquer, criancinhas ensanguentadas gritando de dor e bebês na incubadora sendo levados pro túnel durante um bombardeio. Foi duríssimo seguir assistindo.

O diretor Firas Fayyad, assim como em “Últimos Homens em Aleppo” (documentário de 2017 também indicado ao Oscar), envia um grito de alerta para atrair os olhos do mundo pra esses heróis anônimos que arriscam suas vidas para salvar vítimas de guerra; e também para o sofrimento do povo na Síria e o grave problema dos refugiados.

Se por um lado o documentário é devastador por mostrar a realidade nua e crua de uma guerra civil, por outro também mostra o lado humano dos médicos que, apesar da objetividade com que atendem os feridos, também sofrem por não poder dá-los o tratamento apropriado. Eles são o esteio emocional do lugar e tentam manter a sanidade de todos em meio a tensão e insegurança diários, comemorando um aniversário, rindo e fazendo piadas ou navegando no celular pra ler as notícias. As câmeras acompanham os médicos em sua labuta infinita e junto com eles mergulhamos nos túneis úmidos que servem de abrigo para famílias inteiras que mais parecem túmulos, e onde os sons dos aviões e mísseis russos parecem ainda mais assustadores.

Uma história de altruísmo, amor e resiliência em níveis inimagináveis. Reúna forças e assista “The Cave”, é preciso tomar conhecimento desse realidade por mais dolorida que ela seja. E Deus, por favor, olhe por essas pessoas... amém!

PS – a Dra. Amani Ballour ganhou o visto americano para comparecer à cerimônia do Oscar, que receba muitos aplausos por lá!

Super Vale Ver !


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