Com rigor técnico, é possível se transportar para o passado em 'O Oficial e o Espião' | 2020
NOTA 7.0
Por Rafael Yonamine @cinemacrica
O elemento angustiante que vai te acompanhar ao longo do filme é a atemporalidade do preconceito. Datado de antes de 1900, a Europa já manifestava a intolerância contra os judeus. No episódio retratado, a vítima é o capitão francês Alfred Dreyfus, condenado por alta traição materializada no vazamento de informações confidenciais. À frente das evidências questionáveis, está o preconceito cego contra os judeus que lastreia amplamente o apetite do governo nessa acusação. A clareza encontra no recém promovido coronel Picquart sua principal esperança, o oficial passa a questionar o andamento do processo ao se dar conta de que as provas da acusação são frágeis.
Em seu novo longa, Roman Polanski tem êxito em transportar a audiência com riqueza de elementos para a intimidade contextual francesa. O capricho do design de produção tem um par a altura na fotografia. Não será difícil notar o uso frequente da iluminação natural onde a luz com ares matinais invade com vigor as edificações oficiais. Particularmente, considerei o uso desse recurso excessivo. Depois de bons minutos rodados, o branco estourado ao fundo soa repetitivo, cansa e não oferece momentos de descompressão com planos escuros.
O enredo, entretanto, arrasta-se em episódios em que o diretor nitidamente se apega como se fosse o elemento mais precioso no qual se poderia respaldar. Ou seja, Polanski elege determinadas passagens que busca rentabilizar com o recurso da exaustão ao invés da assertividade. As epifanias do coronel Picquart acerca da fragilidade das evidências, por exemplo, são além de morosas, muito repetitivas. Perdi a conta do número de referências em que o protagonista compara a caligrafia das cartas que incriminaram Dreyfus de forma a enaltecer sua descoberta. Some aos episódios de reflexão individual outros tantos em que o mesmo oficial explica sua teoria para outros membros do governo e do exército. Se fosse um episódio complexo, o investimento em tempo seria pertinente, mas para o que se quer passar o resultado é o exagero.
É uma obra que retrata com fidedignidade técnica momentos anteriores à eclosão da segunda guerra e traz a reflexão sobre o talento humano em ser preconceituoso. Se tiver paciências com algumas redundâncias narrativas, pode ser uma experiência válida.
Vale Ver !
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