'Fim de Festa' retrata uma ressaca de carnaval sem precedentes | 2020
NOTA 8.0
Por Rogério Machado
Meu primeiro contato com o cinema de Hilton Lacerda, assim como o de muita gente, creio eu, foi com o longa 'Tatuagem' (2013). O talentoso roteirista ('A Festa da Menina Morta' - 2008) já de longa estrada, ganhou nossos olhares ao partir para a direção. A marca registrada de Lacerda, sem sombra de dúvida, é a liberdade criativa para imprimir um cinema sem amarras, que exprime com coragem sua brasilidade, a diversidade, num texto claro e sem voltas. 'Fim de Festa', seu mais novo filho, ganhador do Prêmio Redentor de Melhor Roteiro no último Festival do Rio, é mais um desses trabalhos que exprimem essa liberdade de expressão, e de como o cinema reflete o comportamento de seu povo, com suas particularidades e, no caso desse filme, sua marca regional.
No filme conheceremos Breninho (Gustavo Patriota) e Penha (Amanda Beça), que conhecem Ângelo (Leandro Villa) e Indira (Safira Moreira), dois amigos que vieram da Bahia para festejar o carnaval em Recife. Em uma festinha para fechar os dias animados, os quatro jovens se reúnem na casa de Breno, mas a quarta-feira de cinzas traz uma má notÃcia: uma jovem francesa é brutalmente assassinada por asfixia. O crime faz com que o pai de Breno (Irandhir Santos), um policial civil, retorne mais cedo de suas férias no interior para investigar o caso. Além do incômodo de ter estranhos em sua casa, o oficial acaba encontrando vestÃgios afetivos no desdobramento do crime.
Mesmo inserindo contexto policial em sua trama, que inclusive é baseada em fatos (a morte da alemã Jennifer Kloker, de 22 anos, assassinada no carnaval de 2010, em São Lourenço da Mata, Região Metropolitana do Recife), Lacerda não deixa as fortes pinceladas polÃticas de lado: como quando a polÃcia reprimi um topless de Penha e Indira na praia, por conta do moralismo oportunista que tem tomado conta do paÃs, ou ainda, no centro da trama, ao abordar a questão da segurança no Brasil, onde uma estrangeira branca é morta num paÃs de terceiro mundo, e os rumos da investigação levam para periferia, onde possÃveis culpados deveriam ser pobres e negros. O esteriótipo é abordado e nada é velado, o próprio texto, também a cargo de Lacerda, é cristalino nas intenções.
'Fim de Festa' apresenta, através do fim de um carnaval - um evento que move todo um paÃs - um jeito figurado de mostrar como essas terras andam com uma ressaca prolongada, movida por polÃticas falhas, opiniões diversas que reafirmam sua hipocrisia dia a dia. Negam a própria cultura, relegam as riquezas e o batizam exclusivamente de paÃs do carnaval, com direito a roupagem pejorativa. A crÃtica à sociedade moralista, ao sistema e a polÃtica parece discreta, mas no cinema de Hilton Lacerda ganham cores firmes, sabores amargos e mensagem inteligente, e como sempre, livre.
Vale Ver !
Mesmo inserindo contexto policial em sua trama, que inclusive é baseada em fatos (a morte da alemã Jennifer Kloker, de 22 anos, assassinada no carnaval de 2010, em São Lourenço da Mata, Região Metropolitana do Recife), Lacerda não deixa as fortes pinceladas polÃticas de lado: como quando a polÃcia reprimi um topless de Penha e Indira na praia, por conta do moralismo oportunista que tem tomado conta do paÃs, ou ainda, no centro da trama, ao abordar a questão da segurança no Brasil, onde uma estrangeira branca é morta num paÃs de terceiro mundo, e os rumos da investigação levam para periferia, onde possÃveis culpados deveriam ser pobres e negros. O esteriótipo é abordado e nada é velado, o próprio texto, também a cargo de Lacerda, é cristalino nas intenções.
'Fim de Festa' apresenta, através do fim de um carnaval - um evento que move todo um paÃs - um jeito figurado de mostrar como essas terras andam com uma ressaca prolongada, movida por polÃticas falhas, opiniões diversas que reafirmam sua hipocrisia dia a dia. Negam a própria cultura, relegam as riquezas e o batizam exclusivamente de paÃs do carnaval, com direito a roupagem pejorativa. A crÃtica à sociedade moralista, ao sistema e a polÃtica parece discreta, mas no cinema de Hilton Lacerda ganham cores firmes, sabores amargos e mensagem inteligente, e como sempre, livre.
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