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'Deerskin - A Jaqueta de Couro de Cervo', um filme curioso e assustador na mesma proporção | 2019

NOTA 8.0

Por Rogério Machado 

Não sabemos nada sobre a vida pregressa de George. Sabemos que ele está em conflito com a mulher e não sabemos se ele tem um emprego. Só o mistério acerca do personagem já gera de cara grande interesse pelo que haveria de vir. Antes de mais nada, é preciso dizer que 'A Jaqueta de Couro de Cervo' não carrega absolutamente nada de convencional. É preciso um exercício de criatividade para embarcar com fé na trama que a direção do cineasta francês Quentin Dupieux nos propõe. 


Na trama, quando Georges (Jean Dujardin) decide comprar por uma boa quantidade de euros (cerca de sete mil) uma fascinante jaqueta de camurça, sua vida muda completamente, de um dia para o outro. A vestimenta passa a ser sua principal obsessão e o leva até uma jornada de possessividade, ciúmes e comportamento psicótico. Quando menos percebe, Georges se tornou uma outra pessoa. 

Junto com a jaqueta ele leva de brinde uma câmera, e a partir daí filmará quase tudo que vê pela frente. Para tanto ele contará com a experiência de Denise (Adèle Haenel) um garçonete que fez um curso de edição de vídeo. E é claro que o personagem principal desses vídeos é a jaqueta marrom e cheia de detalhes, no estilo cowboy, cheia de franjas. Durante a trama, Georges vai complementando o look, com calça, botas, chapéu e luvas. Todos de camurça e da mesma cor marrom da peça principal. Nesta “transformação” de homem comum para uma espécie de animal selvagem (as peças são feitas de couro legítimo), ele muda o comportamento:  antes calmo e controlado para o impulsivo e raivoso, com direito a urros e rompantes de raiva. Se antes sua postura era passiva, agora ele se torna uma espécie de predador, que mata suas presas (as pessoas da pequena cidade) para retirar suas peles representadas por suas jaquetas.

'A Jaqueta de Couro de Cervo' bebe de várias fontes: da comédia nonsense até ao estilo noir, o filme se ocupa de uma metáfora que mesmo soando estranha vai ganhando o público frame a frame - cumprir um objetivo obscuro e totalmente sem conexão com a realidade. Quantas vezes não somos tomados por ambições que nem sempre são aplicáveis a todos, mas que individualmente fazem sentido e geram motivação - para o bem ou para o mal. Aqui, nosso protagonista se aprofunda em seu mundo solitário e dá vazão a sentimentos escuros aos quais nunca se viu, mas que pareceram naturais conforme foi dando legalidade a cada pequeno objetivo que cumpria.  O longa ainda inédito em circuito comercial é um estudo de personagem que fala sobre vaidade, narcisismo e a solidão.

Vale Ver !



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