Hugh Jackman brilha como um sociopata adorável em 'Má Educação' | 2020
NOTA 9.0
Por Karina Massud @cinemassud
Pressupõe-se que professores e diretores de escola devam servir de exemplo para estudantes, eles não só educam como os guiam moralmente para a vida, principalmente nos EUA onde a passagem do high schoool (ensino médio) para a faculdade é um período de transição importantíssimo, todo o futuro dos jovens pode depender dele. Papel esse que um dia coube a Frank Tassone, Diretor da New York´s School dos anos 90 aos 2000, mas que veio abaixo devido a um desvio enorme de dinheiro destinado à escola pública, a maior fraude do gênero ocorrida nos EUA.
Logo na primeira cena já vemos que Frank se trata de um homem vaidosíssimo, com rosto lisinho, narinas depiladas, cabelo penteado milimetricamente com gel e ternos impecáveis onde não se vê um vinco. Alguém preocupado em tempo integral com a imagem que passa pro público. Mas há algo de estranho com tanta perfeição.
Hugh Jackman, ator absurdamente versátil, está soberbo no que talvez seja, junto do herói Wolverine, o melhor papel de sua carreira. Ele é um sociopata encantador e envolvente (e por isso mesmo desprezível),que decora o nome e ocupação de todos, o que dá um ar de intimidade e conexão com alunos e colegas de trabalho bem convincente. Profissionalmente irretocável, ele levou a escola a ser a número 4 no ranking do país e a ter número recorde de estudantes nas universidades, fatos que o deixaram acima de qualquer suspeita. Apesar do teto da escola estar apodrecendo a olhos vistos, a posição da escola fez com que ninguém questionasse nada. Até que o desvio de dinheiro vem à tona com a reportagem de uma simples aluna que trabalha no jornal da escola e vai investigar a fundo os arquivos de gastos.
Allison Janney também está fantástica como a assistente co-autora do desvio de dinheiro: ela assim como Tassone tem um padrão de vida incompatível com seu cargo na escola, com festas, casas luxuosas e viagens, então sua família faz vista grossa porque não quer perder o conforto e regalias que a grana proporciona.
A produção da HBO, baseada no artigo publicado na NYT Magazine, foi muito bem dirigida por Cory Finley com detalhes pontuais - que vão aos poucos revelando as facetas do nosso personagem - que fazem a diferença e com um ritmo que envolve o público. Não se trata de um drama mas sim de um filme divertido contado em tom de ironia, numa linha tênue que separa a sátira inteligente da caricatura escrachada.
Assim como “O Mago das Mentiras”, “A Grande Aposta” e tantos outros, o escândalo de Roslyn rendeu um ótimo longa, expondo que não é só em países de terceiro mundo que existem golpistas e maracutaias homéricas, com a diferença crucial que lá nada acaba em pizza, não importa o quão importante seja o protagonista ele será devidamente punido. Frank Tassone começa a trama como herói e termina como um anti-herói desmascarado de todas as mentiras. Um filme imperdível que nos mostra que aparências sempre serão... apenas aparências.
Super Vale Ver !
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