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Especial Quarentena: 'Cinema Paradiso' e a influência do cinema no cotidiano | 1988

Por Rogério Machado 


Não há como negar a influência que o cinema tem na sociedade. Dita moda, comportamento, tendências, e claro, motiva inspirações, seja dentro da própria arte cinematográfica ou ainda em outros movimentos, como por exemplo na indústria literária, onde alguns livros ganham destaques em vendas depois de virarem filmes. 


Muitos filmes nos contam a história do cinema, de personalidades e estrelas da indústria, entre tantos outros assuntos de diversas vertentes. Mas nenhum outro filme traduziu a importância do cinema como influência na comunidade e no coração de alguém como 'Cinema Paradiso', ironicamente, não nascido nos grandes estúdios de Hollywood, o filme italiano ganhou uma marca tão potente que até hoje não se produziu nada igual. O filme ainda permanece intacto dentre as grandes obras produzidas no país, assim como 'A Doce Vida' (1960), de Frederico Fellini, 'Três Homens em Conflito' (1966), de Sérgio Leone, ou os mais recentes exemplos; 'A Vida é Bela' (1997), de Roberto Benigni  e 'A grande Beleza' (2013) , de Paolo Sorretino. 'Cinema Paradiso' é o melhor do cinema tendo como tema o cinema, e nele abraça ainda outras temáticas como amizade verdadeira, a descoberta do primeiro amor, família, morte e vida. 

A HISTÓRIA 

Na trama que se passa nos anos que antecederam a chegada da televisão em uma pequena cidade da Sicília, o garoto Toto (Salvatore Cascio) se vê muito ligado pelo cinema local e começa uma amizade com Alfredo (Philippe Noiret), projecionista que se irrita com certa facilidade com ele, mas que tem um enorme coração. Uma amizade sem precedentes entre duas pessoas de idades tão distantes, mas unidos pelo grande amor em providenciar o espetáculo da tela grande ao público, iria marcar a vida de ambos. O filme acontece em flashback,  quando Toto, (na vida adulta vivido por Jacques Perrin), agora um cineasta de sucesso, recebe a notícia de que Alfredo faleceu. Ele então precisará voltar e reviver tudo que um dia deixou para trás por incentivo do próprio Alfredo, um homem que confiava mais em Toto do que ele próprio. 



AS REFERÊNCIAS 

Ao falar do amor pelo cinema, obras primas do cinema mundial, e claro, do cinema italiano, não poderiam faltar. A tela do querido Cinema Paradiso vai do cinema mudo até as comédias rasgadas. Os dramas também tinham seu lugar e levavam a plateia à uma torrente de lágrimas. Os beijos, ah...  os beijos!  Esses eram censurados pelo primeiro gestor do cinema, o Padre Aldelfio (Leopoldo Trieste). Sim, o local era uma igreja e a noite era a máquina de sonhos que viria a entreter um  público cativo. 

Entre tantas produções, é possível observar  'E o Vento Levou' (1939), 'Luzes da Cidade' (1931), do eterno Charles Chaplin, 'E Deus Criou a Mulher' (1956), 'Catene' (1949) 'Noites Brancas' (1957), 'A Felicidade não se Compra' (1946) , drama emocionante do grande Frank Capra, entre outros muitos títulos que marcaram a história do cinema. A lista completa dos filmes referenciados no longa de Giuseppe Tornatore eu encontrei aqui, uma lista que é basicamente pautada entre os anos 1930 e 1950.



A TRILHA SONORA 

A trilha belíssima e emocionante, um dos cartões de visita da obra, tem a assinatura de ninguém mais, ninguém menos que do mestre Ennio Morricone, que já esteve presente com sua arte em centenas de grandes filmes, que, listá-los aqui, deixaria o texto enfadonho, tamanha influência do maestro na sétima arte.  Só pra se ter uma noção 'Era Uma vez no Oeste' (1968) , 'As Mil e Uma Noites' (1974), 'Os Intocáveis' (1987) e 'Bastardo Inglórios' (2009). 

A trilha sonora foi premiada com o Bafta da Inglaterra e também o David Donatello da Itália, como melhor trilha sonora. O tema principal do filme revela poesia e encantamento e tem a capacidade para nos transportar para um mundo mágico permeado por cenas das mais antológicas produções cinematográficas de todos os tempos, assim como aconteceu no final do filme com o personagem Totó, já crescido, assistindo a montagem que havia sido feita, pelo projecionista Alfredo, dos recortes de filmes colecionados através do tempo.

O maestro, uma lenda ainda viva, tem 91 anos e ainda está em plena atuação. Seu último trabalho foi em 'Os Oito Odiados' (2016) , do Tarantino, trabalho que lhe rendeu um Oscar, um Bafta, um Globo de Ouro e um Critics' Choice Awards.



A MORTE DE ALFREDO E DOS CINEMAS DE RUA 

Na sequência final, quanto Toto caminha junto com o cortejo que leva o caixão de Alfredo, ele avista o velho Cinema Paradiso que está em ruínas e prestes a ser demolido.  Ao mesmo tempo em que Totó enterra seu melhor amigo, ele avista o fim de uma era bem ali na sua frente. Essa representação vai muito além da vida particular de Totó e seu amor pela sala escura: a cena, que viaja pelo olhar triste e as memórias do menino, funciona como o prenúncio irreparável para muitas das salas de cinema de rua, que com a chegada das grandes redes em shoppings e complexos de exibição, viriam a sucumbir ano após ano. Nos anos 80, quando o filme foi lançado, isso já vinha acontecendo e hoje, principalmente no Brasil, cinemas de rua estão praticamente instintos. 

Vale uma curiosidade: Giuseppe Tornatore tinha a intenção de que esse filme fosse uma espécie de 'obituário' dos cinemas tradicionais e da industria cinematográfica em geral. Porém, após o sucesso do filme, ele nunca mais mencionou isso. Mas é certo que, olhando pro agora, percebemos que independente do sucesso que uma produção faça, nada vai superar a perda dos milhares de templos da sétima arte. A nível de Brasil é irônico pensar que: em 'Cinema Paradiso' o templo virava cinema, e hoje muitos dos cinemas viraram templos. 

FINE 

'Cinema Paradiso' é uma declaração apaixonada pelo cinema e também a celebração de como filmes mudam o comportamento, informam, emocionam ou simplesmente entretém. Um filme une e transforma realidades. Não só fazia naquela pequena cidade da Itália, mas o faz até os dias de hoje.  Vida longa ao cinema, paraíso de todos nós. 


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