Novo longa da Netflix, 'Presságio', oferece a sobreposição de suspenses | 2020
NOTA 6.0
Por Rafael Yonamine @cinemacrica
A falta de inspiração com a estética cinematográfica facilita a compreensão do relapso narrativo desse novo longa original da Netflix. "Presságio" tem a ambição de propor densidade baseada no entrelaçamento de linhas distintas de suspense, mas o saldo é uma resolução difusa e enlatada numa produção não mais que convencional. Como todo caso policial, o espectador é apresentado ao que se sabe sobre determinado crime, aqui, o homicídio de uma adolescente. O desdobramento do episódio se emparelha com outra investigação: o policial encarregado de conduzir o caso inicial é suspeito de protagonizar outro homicídio, passando a ser observado por sua parceira policial.
Apesar da aparente dinamicidade proposta pelas linhas de tensão dissociáveis, homicídio da adolescente e suspeita do policial homicida, rapidamente será possível notar que os recursos técnicos não contribuem para esse fim. Os planos da primeira perseguição noturna, por exemplo, são absurdamente iluminados e desmuniciados de uma frenesi envolvente. Enquadramentos e movimentações de câmeras são estáticos, também é medíocre a formulação de diversos mise-en-scènes. Um bom exemplo é o momento em que a policial pisa numa armadilha para animais: a representação não decorre da sensação de aflição, o retrato é amparado num quadro onde a vítima sofre o acidente e se posiciona perfeitamente sentada num belo tronco de árvore ao centro da tela.
A lapidação da imagem de profissional acima da média de Juánez, policial principal e investigado pela colega, é exagerada. Não há cerimônia em centralizar nele de forma abrupta todas as virtudes que um bom policial poderia ter. Além de ter uma percepção aguçada, mesmo para identificar elementos óbvios, ele é capaz de debater e contrariar profissionais especializados como o médico legista.
O maior incômodo, entretanto, recai sobre o roteiro. Mais vale uma linha simples bem trabalhada que a aglomeração de tratativas falhas em se relacionar mutuamente e em serem individualmente atraentes. A falta de habilidade ao manusear muitos ingredientes recairá em falhas. Nesse caso, o deslize imediato é a difusão narrativa que não equilibra harmoniosamente os dois pratos de suspense. Pior que isso é a absoluta falta de criatividade do roteiro que de forma cansativa propõe inúmeros plot twists com a mecânica do "é culpado ou não é?" amparando-se em argumentos não inteligentes. Dispensável.
Vale Ver Mas Nem Tanto !
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